quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

A Reforma do Mercado Municipal de Aracaju



Infonet - Blogs - Ana Libório - Publicado em 15.09.2010.

Café Pequeno- Recordar é Viver...
Por Ana Libório.

O desmonte da favela e a transferência dos feirantes para o novo prédio foi comparado à guerra de Kosovo(???). De nossa parte, proibidos de acompanhar o processo, acreditamos fazer um trabalho de arqueologia urbana redescobrindo um tesouro arquitetônico

Hoje, 15 de setembro, faz 10 anos da reinauguração dos Mercados Antônio Franco e Thales Ferraz. Quanto tempo se passou e, ainda assim, parece que foi ontem.

Lembro que numa das primeiras vezes que apresentamos o projeto, na Câmara Municipal de Aracaju, um dos vereadores falou que o projeto era lindo, porém um sonho. E foi mesmo.

Olhando para trás não acredito que aquilo tudo aconteceu. Era como se estivéssemos imbuídos de uma missão. E eu acreditava tanto na proposta que não tinha quem ou o quê me demovesse da ideia. Havia algo de messiânico...

Para quem não conhece o Antônio Franco, o Thales Ferraz e o Leite Neto eram os prédios que compunham o antigo mercado central de Aracaju. Três prédios, três estilos arquitetônicos: um eclético (1926), um neocolonial (1947) e o mais novo brutalista (aproximadamente 1980- foi demolido na obra), emaranhados numa intricada rede de barracas de madeira e bancas de alvenaria conformando uma favela que obstruía ruas, praças e calçadas.

A simbiose e continuidade espacial entre os três mercados e as barracas era tamanha que constituíam um só organismo. Por sua vez os prédios escuros, sem manutenção jogavam a feira na rua. Frutas e verduras eram vendidas no chão, sobre lonas no meio-fio enlameado, conhecido como feira da pedra.

As barracas de camelôs instaladas nas vias públicas obstruíam o trânsito e fecharam o comércio formal na área por anos a fio. Para se ter uma ideia do caos urbano existiam prédios de dois andares construídos no canteiro central das avenidas, margens do Rio Sergipe e no miolo dos mercados. Pesquisas estimavam um universo de 9.000 pessoas por dia.

Segundo amigos um verdadeiro “set de cinema”. E os dois prédios antigos, lindos, esquecidos, qual cinderela adormecidos e só vislumbrados, aqui e ali, por olhares sensíveis. Talvez por isso tenham sido preservados.

A oportunidade de concretização da obra se deu com a transferência do porto de Aracaju para Santo Amaro que nos permitiu reorganizar a feira com a construção do mercado novo, edificado a partir do reaproveitamento de antigos galpões portuários abandonados que foram incorporados ao complexo.

O desmonte da favela e a transferência dos feirantes para o novo prédio foi comparado à guerra de Kosovo(???). De nossa parte, proibidos de acompanhar o processo, acreditamos fazer um trabalho de arqueologia urbana redescobrindo um tesouro arquitetônico para a cidade que hoje se orgulha do seu patrimônio histórico.

Do início do processo até a conclusão da obra foram mais dez de anos de estudo, então podem fazer as contas. Arquitetura leva tempo!

Daquela época, além da certeza e entusiasmo, um temor da ideia não vigar, virar folclore. Mas como dizia o Raulzito:

“- Sonho que se sonha só, é só um sonho que se sonha só. Mas sonho que se sonha junto é realidade.”

Texto e fotos reproduzidas do site: infonet.com.br/analiborio

Postagem originária da página do Facebook/Minha Terra é SERGIPE, em 16 de Janeiro de 2013.

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