sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Prédio que serviu de Paço Imperial



Um argelino em Aracaju
O comerciante José Narboni.
Por Luiz Antônio Barreto

Nos primeiros tempos de Aracaju como capital da Província de Sergipe, em 1855, José Narboni fazia investimentos mobiliários, atendendo ao presidente Inácio Barbosa que então exortava os capitalistas, como os barões de Maroim e de Própria e o Capitão José Teixeira da Cunha, a que construíssem casas para atender, na venda ou no aluguel, aos funcionários públicos que seriam removidos, compulsoriamente, de São Cristóvão. Nascido em 4 de abril de 1806, José Narboni já estava em Sergipe, provavelmente em Maroim, antes da mudança da capital. Em 1860 era Vice cônsul da França e do Uruguai e nesta condição integrou a Comissão de Recebimento do Imperador Pedro II, em janeiro daquele ano. No dia 12 de janeiro de 1860 felicitou, com Horácio Urpia, que era Vice Cônsul de Portugal, e vestindo as suas vestes oficiais ofereceu-se para servir de Porta Bandeira na Guarda de Honra do Palácio e ali permaneceu no seu posto de honra.
José Narboni tinha vendido, como registra da Mensagem de 2 de julho de 1856, a mobília do Palácio Provisório (prédio da praça Fausto Cardoso, esquina com avenida Rio Branco, adaptado para ser o Paço Imperial, que depois abrigou uma repartição federal, a Delegacia Fiscal). Quem comprou o mobiliário foi o presidente Salvador Correia de Sá e Benevides, que substituiu Inácio Barbosa, morto meses depois da mudança da capital. O jornalista e professor Luiz Álvares dos Santos, ao escrever sobre a viagem imperial a Sergipe, anota que “a mobília é singela, mas muito elegante de mogno, a Luiz XV, contendo um piano da mesma madeira. No centro da sala uma mesa em forma de elipse com pedra de mármore branco”, seguindo na descrição de tudo o que havia no Paço Imperial.

José Narboni manteve-se no comércio de Aracaju e teve participação na fundação da Loja Cotinguiba, em 1872, iniciando-se em 10 de novembro daquele ano. Entre 1859 e 1875 Narboni ajuizou ações, principalmente de cobranças, contra comerciantes com negócios em Aracaju. Uma, de 7 de maio de 1875, é requerendo a falência da Casa Comercial de Luiz José Ramos, pela falta de pagamento de várias letras, sendo devedor de Narboni e de outros credores. Outras, de 10 de fevereiro de 1860, cobrando uma dívida de Bento José Pereira, como fiador (ao ser inventariado, Bento José Pereira tinha casa de morar, em terreno próprio, casa de farinha e seus pertences, quinhão de terras no sítio Porto Grande, casa na cidade de Aracaju cercada de salinas no apicum da Manteiga, com coalhadores, tanques e armazém e, ainda, dívidas passivas). Outros casos foram: Processo Crime, datada de 15 de fevereiro de 1876, no qual Narboni, como queixoso, acusa Zifirino Alves Dias Torres de superfaturamento de um escravo que deveria ser entregie a alguns negociantes do Rio de Janeiro; Ação Comercial de 24 de julho de 1860, na qual o autor (Narboni) requer o pagamento da quantia que lhe deve o negociante de gêneros alimentícios Adolfo Beck (alemão nascido em Hamburgo em 1 de janeiro de 1832, Despachante Geral da Alfândega de Aracaju, que morreu em Aracaju em 4 de maio de 1896).

Ao morrer, ostentando o título honorífico de Comendador da Rosa, José Narboni teve seus bens inventariados, em 13 de novembro de 1876, por Fortunata Narboni de Figueiredo. Eis a lista dos bens: “ Comenda da Rosa, salvas de prata, talheres de prata, relógio de ouro e cadeia de ouro, relógio de prata, bancos, cadeiras, cadeira de balanço, escrivania, bancas de jacarandá, sofá, mesa, cômoda, cofre de ferro, quatro escravos, casa na rua Aurora (atual avenida Rio Branco), casa na rua São Cristóvão, terreno na rua Japaratuba (atual João Pessoa), posse de terra no Mosqueiro, com casa de morar, vacas, éguas,, potros, dívidas ativas e passivas.” Pela lista de bens de José Narboni é possível traçar o perfil de um capitalista da segunda metade do século XIX, ligado ao comércio da Província de Sergipe. Outros estrangeiros exerceram atividades empresariais em Aracaju e noutras cidades sergipanas, como Maroim, Estância, Laranjeiras, constituindo famílias, angariando espaço na vida econômica da Província.

Dezenas de estrangeiros participaram da fundação e entraram para a Maçonaria, o que faz supor que a loja maçônica era uma espécie de “embaixada” para os que aportavam em Aracaju, procedente de vários destinos. José Narboni, que integrou o primeiro grupo de estrangeiros na Loja Cotinguiba, é um exemplo de adaptação à vida sergipana. Uns constituíram família, e continuaram residindo em Sergipe, outros voltaram para o lugar de origem ou mudaram para outras cidades.

Foto e texto reproduzidos do site: infonet.com.br

Postagem originária da página do Facebook/Minha Terra é SERGIPE, em 30 de dezembro/2012.

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