sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

As Almas de Itabaiana Grande.


As Almas de Itabaiana Grande.

Samarone comenta um movimento literário independente que surge em Itabaiana.

Antonio Samarone de Santana.
Ceboleiro do Beco Novo.

Brota em Itabaiana um vigoroso movimento cultural. Livros são publicados, revistas circulam com regularidade, pesquisas, debates, portais, blogs, quase tudo de elevado nível. O que está acontecendo? Para ajudar a compreensão é necessário registrar a completa ausência do Poder Público e das Universidades.O primeiro, voltado para o patrocínio dos shows das "bandas" e das micaretas, e o saber acadêmico, assoberbado com suas regras e imposições, suas produções protocolares, ignoram solenemente outros predicados da vida cultural.

O forte em Itabaiana nunca foi a cultura, mesmo registrando que no último século tivemos quatro historiadores de peso: Lima Junior, Sebrão Sobrinho, Thetis Nunes e Vlademir Carvalho. Entretanto, a questão não é essa, a produção intelectual sempre existiu: Alberto Carvalho, Antonio Oliveira, José Crispim, etc., a novidade é a atual manifestação coletiva, independente da capital e do capital, ou de qualquer outro centro. Não falo aqui da música, pois esta tem raízes profundas na Vila de Santo Antonio e Almas de Itabaiana, e está organizada a mais tempo.

O que está possibilitando esse renascimento cultural da "aldeia", do nível local, do periférico, do regional? As profundas mudanças nos meios de comunicação, a INTERNET, os satélites, a disponibilização dos arquivos, bibliotecas e bancos de dados, o intercambio on-line, as novas mídias, criaram condições de acesso imprevistas, permitiram ao bom pesquisador as mesmas condições, e que seus estudos chegassem ao mundo sem o filtro do poder. Essa nova realidade nas comunicações pode ser parte da explicação?
Não estou deslumbrado com o populário, com manifestações primárias da cultura, com resistências do folclore, etc. também não estou negando o seu valor; o que estou discutindo é a produção da alta cultura, universal, que começa a nascer na periferia. O que estou chamando a atenção é para o movimento de resistência a cultura de massas, alienante, centralizada, distribuída pela indústria cultural para o consumo; e que só aceita as manifestações locais, como subalternas, exóticas, secundárias. A Aldeia Global não pode ter uma única direção - centro/periferia - queremos colocar nossos temperos, discutir modos de vida, visões de mundo, beber em nossas raízes.

Ninguém desconhece a importância da Semana de Arte Moderna de 1922 para a cultura brasileira, contudo, nesse mesmo período, Gilberto Freire liderou um movimento pela regionalização cultural, com manifesto público e tudo. Estava Gilberto Freire sendo provinciano? Existe alguma contradição insanável entre o universal e o particular? "Mas o Tejo não é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia", diz Pessoa num de seus versos famosos.

É essa volta às raízes, sem abrir mão do universal, o que está ocorrendo em Itabaiana. Uma revalorização do nosso modo de vida, nossas festas, músicas, danças, culinária, crenças, um reavivar da nossa memória, da nossa história, dos nossos vilões e heróis, santos e demônios, de nossas raízes latinas, ibéricas, da influencia africana e tupinambá.

Se essa força estiver se manifestando em outras comunidades, em Lagarto eu já constatei, teremos uma grande reviravolta cultural nos próximos anos. Ainda ouviremos falar muito dessas mudanças em Itabaiana. Mais cedo ou mais tarde. Qual é o papel do Poder Público e de suas políticas culturais? Está franqueada a palavra...

Foto e texto reproduzidos do site: itnet.com.br/materia-15826

Postagem originária da página do Facebook/Minha Terra é SERGIPE, em 7 de fevereiro de 2013.

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