quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Operação Cajueiro vai render um documentário

  Milton Coelho.
 Foto: arquivo de Osmário Santos/Infonet.

Wellington Mangueira.
 Foto: arquivo jornal Gazeta de Sergipe.

Jornaldacidade.Net, em 15/01/2014.

Operação Cajueiro vai render um documentário.

Vítima de toda a sorte de torturas e suplícios infligidos pelos militares, Milton foi obrigado a tatear o mundo pelo resto de seus dias, mas a cegueira derivada dos abusos não o jogou nas sombras.

Por: JornaldaCidade.

Sob os confetes e serpentinas do Carnaval de 1976, milhares de vozes abafadas. A Operação Cajueiro, manifestação mais pungente do autoritarismo que manchou o território sergipano durante os anos de chumbo, consta entre as muitas páginas subtraídas à história brasileira, um livro pontuado por silêncio e dúvida. Segundo Fábio Rogério, Vaneide Dias e Werden Tavares, produtores e diretores do curta-metragem Operação Cajueiro, um carnaval de torturas (ainda em fase de finalização), a sombra que pesa sobre o episódio constrange a memória local e fragiliza a noção de liberdade vigente.

Para Vaneide, a mácula da Operação Cajueiro deveria fazer parte da afirmação do indivíduo sergipano. “Depois de conversar com tanta gente que pagou por suas convicções com a própria carne fica muito fácil perceber que a minha geração não tem uma dimensão muito justa do que significa governar o próprio destino, a partir das certezas que cada um carrega. Os sergipanos então torturados pelos militares eram jovens, com a idade de meus amigos, e foram silenciados na base da violência. Essa é uma história que tem de ser revelada”, diz ela.

O documentário financiado pelo Edital de Apoio a Produção de Obras Audiovisuais de Curta Metragem da Secretaria de Estado da Cultura (Secult/SE) passa essa história a limpo e localiza o triste episódio no tempo, sem esquecer os desdobramentos que o fazem tão importante nos dias de hoje. Para tanto, os diretores procuraram os homens sangrados pela experiência. Gente como Milton Coelho, ex-militante do PCB, que foi mantido preso no quartel do 28º Batalhão de Caçadores da Polícia Militar durante 50 dias. Vítima de toda a sorte de torturas e suplícios infligidos pelos militares, Milton foi obrigado a tatear o mundo pelo resto de seus dias, mas a cegueira derivada dos abusos não o jogou nas sombras.

“Eu sou partidário de que é preciso identificar todas as ocorrências. É preciso identificar todos os que participaram daquelas atrocidades para que as novas gerações sejam municiadas e não permitam que tudo se repita”, disse ele.

Segundo o diretor Fábio Rogério, não poderia haver momento mais oportuno para a realização do documentário. “Nos últimos anos, diversos encontros e seminários em lembraram a criação da Comissão de Anistia do Ministério da Justiça. Familiares, ex-presos políticos e organizações da Sociedade Civil estão empenhadas para trazer os abusos criminosos da ditadura à tona. Não se trata apenas de homenagear/indenizar familiares de mortos e desaparecidos, perseguidos, presos, demitidos, torturados e exilados. Mas de alertar a sociedade brasileira para que as barbáries perpetradas não se repitam”, garantiu.

Para Werden, a construção do filme tem ar de dever histórico a ser cumprido. “A missão do realizador é buscar uma forma através da junção de imagens e som que comunique a sua verdade com o mundo. O momento político atual com essas manifestações e toda a tentativa de se entender pede uma reflexão maior sobre o passado de luta, pra que se caia nem no discurso reacionário nem no discurso anacrônico. A gente não pode aceitar que a nossa geração não conheça algo com tanto conteúdo quanto a Operação Cajueiro”, considerou o diretor

Operação Cajueiro.

O endurecimento do regime militar instaurado pelo golpe de 64 não tardaria a fazer as primeiras vítimas. As covas abertas a partir de 1975, contudo, tinham objetivo definido. A ordem era dizimar o proscrito Partido Comunista Brasileiro (PCB) e acabar com a influência exercida em diversos órgãos da sociedade e do Estado.

Em fevereiro do ano seguinte, véspera de Carnaval, ocorreu em Aracaju e Operação Cajueiro. Uma força especial oriunda da Bahia, sob as ordens do general linha-dura Adyr Fiúza de Castro, comandante da 6ª Região Militar, sediada em Salvador, prendeu arbitrariamente 25 sergipanos, processou 18 deles, além de processar também o então Deputado Estadual e atual Governador de Sergipe Jackson Barreto, à época, filiado ao MDB mas ligado ao PCB.

O documentário Operação Cajueiro, Um Carnaval de Torturas, um protesto contra a umidade dos porões onde a historia permanece encarcerada, ouviu os presos políticos da operação, entre eles, Antônio José de Góis, Wellington Mangueira, Delmo Naziazeno, Rosalvo Alexandre e Milton Coelho.

Texto reproduzido do site: jornaldacidade.net

Postagem originária da página do Facebook/MTéSERGIPE, de 15 de janeiro de 2014.

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