segunda-feira, 24 de março de 2014

José Fernandes


Publicado originalmente no site Osmário, em 18,03.2014.

Memórias:

José Fernandes
Por Osmário Santos

José Fernandes Alves dos Santos nasceu em 19 de outubro de 1952 na cidade de Lagarto /SE. Seus pais : José Alves dos Santos e Maria do Carmo de Almeida.

O pai morreu quando o filho tinha três anos de idade. Diante do segundo casamento de sua mãe com Altamiro Carvalho, com ele uma boa convivência. Um segundo pai que esteve em todos os momentos e que passou para José Fernandes o valor da preservação da amizade. “ Uma pessoa muito conhecida na cidade de Aracaju. Foi Rei Momo por um bom período. Uma pessoa humilde e de muita amizade, que me ajudou muito”.

De sua mãe o exemplo de uma mulher de fibra que lhe passou muita segurança.

Com quatro anos de idade o contato com os livros. Um tempo para recreação na escola e de algumas lições para aprender o ABC, através de uma professora particular, cujo nome não se lembra mais.

O curso primário foi realizado coma professora Elze, com aulas particulares que aconteciam na residência da professora na Avenida Pedro Calazans.

Colégio Leite Neto

Chegado o momento de fazer o então Exame de Admissão, escolheu o Colégio Leite Neto, sendo bem sucedido nas provas. Concluído o curso ginasial, troca o Leite Neto pelo Colégio Atheneu, onde estuda o curso científico. No Atheneu, em pelo período da Ditadura , tornou-se um estudantes altamente politizado. Conversa sobre política e participava das atividades culturais. Conta que aproveitou bem o tempo e hoje tem a dizer que foram momentos importantes da sua vida. Não terminou o científico , por conta da pintura.

Do período da infância, vivida na Rua Lagarto, recordações dos amigos João Garcez, Sávio, Bobô Cruz, Cacau e Orfélia Cruz. “ Foram pessoas que marcara muito”.

Jogava futebol nos momento de folga do colégio, com os amigos da Rua Lagarto, mas sempre conseguia tempo para a pintura.

Do tempo da juventude , recordações do tradicional natal no Parque Teófilo Dantas; “ Era uma bonita festa. Quando criança era fascinado pelo Carrocel do Tobias. O natal no Parque era ponto de encontro da rapaziada e os jogos movimentava muito”.

Primeiro emprego

Da História das artes plásticas em Sergipe José Fernandes
Na Agência Nacional, hoje, Empresa Brasileira de Notícias, com Rubens Ribeiro Cardoso, o primeiro emprego. Iniciado como auxiliar administrativo, passando em seguida para a função de operador de telex . “ Tem um fato interessante: Anselmo Rodrigues, artista plástico,foi trabalhar lá depois que falei com Rubens. O Anselmo montou dento da Agência Nacional o atelier de pintura. Primeiramente o Rubens achou ótimo. Pois assim ficaríamos por mais tempo no emprego. Nisso , o Rubens recebe uma comitiva e o Anselmo estava no atelier que era escondido por uma divisória e lá esta ele pintando e cantando. Alguém da comitiva pergunto o que era aquilo e o Rubens que sentia o maior orgulho em ter um atelier de pintura no local de trabalho que dirigia, respondeu que era o servente eufórico estava cantando. Quando a comitiva que veio de Brasília foi embora, o Rubens nos procurou e pediu para acabar com a atelier.

Florival Santos

Ainda do tempo em que trabalhou na Agência Nacional, fez questão de contar um outro episódio. “ O emprego era perto do atelier de Florival Santos. Um dia , deixei a Agência Nacional e fui para o atelier de Florival. Quando estava lá chega Rubens Ribeiro . Meu filho, meu filho, você tem um futuro pela frente . Você quer deixar esse emprego por não saber o que representa você. Um emprego federal e vai ficar nessa pintura. Isso não pode acontecer.Respondi que só queria saber dos pincéis e de mais nada. No outro dia cair fora”.

“ O segundo emprego foi ao lado de Eliane Fonseca, como integrante da equipe de restauração do Museu de Arte Sacra. “ Fui contratado pela Emsetur no ano de 1978”.

Vida Artística

Quando passou a falar da vida artística começou dizendo que só o espiritismo podia explicar, pois aos 15 anos de idade já estava ganhando prêmio com a sua pintura.

A primeira tentativa de pintar foi rasgando lençóis da mãe para esticar e prepará -los para receber tinta. Como se fosse tela. “ Já tinha fome de tinta”.

Revela que até hoje só tem habilidade com o pincel, já que nunca usou qualquer tipo de lápis em seus trabalhos. “ Só consigo fazer alguma coisa com pincel e com cor”.

Também pintou em papelão com tinta a base de água. “ Conseguia papelão de caixas que iam ao lixo, até mesmo, caixa de sapato e pincéis usados em construções. Outro lado interessante de sua carreira é que não começou pintando figuras de revistas em quadrinhos; “ Sempre tive a preocupação de trabalhar com o social. Pessoas marginalizadas, crianças de rua e mendigos. Também pintei violeiros”.

Conhecendo através do pai adotivo , Washington, Wellington, Daniel e Osvaldo, pintores jovens que despontavam na pintura aumentou seu entusiasmo pela pintura e passou a se preocupar pelo seu lado técnico. “ Agora entrava na fase da tela, da pintura a óleo. Comprava na época todo o material na então Livraria Regina”.

Conta que na época das primeiras produções, vender quadro em Aracaju era a coisa mais difícil, pois só conseguia colocar no mercado quem tinha mais de seis anos de atividade.

O artista plástico José Fernandes, chegou a conquistar Menção Honrosa do Rotary Clube no ano de 1976. No mesmo ano ganhou a Medalha de Prata no Salão Atalaia de Pintura. Em 78 ganhou dois prêmios: O Salão Nacional de Artes Plásticas do Festival de Artes de São Cristóvão e Prêmio Norcon.

Passou de vários salões de arte em 1980 e conquista o Prêmio em Aquisição Nacional do Salão de Artes de Brasília. Também foi selecionador par representar Sergipe no Circuito Nordeste de Artes Plásticas.

Voto de Louvor

Pelo valor do seu trabalho artístico, já recebeu Voto de Louvor da Assembléia Legislativa Câmara de Vereadores de Aracaju e Voto de Louvor pelo Conselho Estadual de Cultura.

Uma vida de dedicação a pintura e com boas referências curriculares. No ano de 1979 promove sua primeira exposição individual na Galeria de Arte Álvaro Santos. Volta no ano de 1983 na mesma galeria, para uma segunda exposição. Na Ludus Artes Galeria, expõe individualmente em 1984. No ano seguinte participa da exposição individual da Galeria Portinari. Retorna em 1988 para a Álvaro Santos em 1991 expõe m J. Inácio em 1993 expõe na Caixa Econômica.

Assina inúmeros painéis espalhados pela cidade de Aracaju. Entre eles o do Celi Praia Hotel, Salão nobre da Prefeitura de Aracaju, Centro Médico Odontológico, Edifício Scorpius , Mares da Grécia, Clínica São Marcelo e outros.

Publicado em 03/12 /1995.

Foto e texto reproduzidos do site: osmario.com.br

Postagem originária da página do Facebook/MTéSERGIPE, de 23 de março de 3014.

sábado, 22 de março de 2014

Os Oitenta anos do Padre Humbert Leeb.


Os Oitenta anos do Padre Humbert Leeb.
Por Lúcio Prado Dias *

A Sociedade sergipana comemorou nesta quinta-feira, 20 de março. os 80 anos do padre Humbert Leeb, missionário austríaco que em Sergipe fundou o Centro Esperança de Deus, na região do Porto do Mato, litoral sul de Sergipe. Uma obra transformadora que tirou a região da miséria extrema, em obra social gigantesca. Fui convidado para saudá-lo, em nome da Academia Sergipana de Medicina. Abaixo transcrevo o meu discurso:

Excelências,
Padre Leeb, excelência maior da noite.
“A verdade está no mundo à nossa volta” ( Aristóteles)
Mais do que mera formalidade, assim considero cada data de aniversário. Mais ainda quando se comemora 80 anos de vida.
Pelos princípios aristotélicos, dizemos que, se hoje existimos, é por que existimos em ato. Mas antes disso existem as potencialidades. Passamos então da potência ao ato. Mas quantas pessoas existem apenas em potência e nunca chegarão a existir em ato? Dizendo de outra maneira, quantas pessoas poderiam existir, mas não existem, e nunca existirão!
Assim, todo "feliz aniversário" que se ouve deve ser, no fundo, um reconhecimento de que a existência do aniversariante neste mundo é querida e, principalmente, reconhecida. E toda omissão desse tipo de felicitação é afirmação tácita de que sua existência é indiferente. De que se ele nunca tivesse passado da potência ao ato, o mundo seria pouco diferente do que é.
Transpondo para a nossa pequena comunidade do sul de Sergipe, o que seria dela se a potência não se transformasse em ato, em ação? A ação transformadora pela ação do missionário austríaco, a quem hoje nos curvamos em reverência.
A Sociedade Médica de Sergipe e a Academia Sergipana de Medicina, irmanadas, comparecem a esta solenidade para reverenciar a ação do grande homem que dedicou a sua vida para a recuperação e valorização social de outras vidas. Disse-me ele certa vez que, ao olhar para cada ser humano que ajudava, via nele a imagem do Cristo.
Se comungamos hoje a mesma tristeza de constatar o descaso com a sua obra, fruto de uma vida inteira, só Deus sabe como, para construir, rejubilamo-nos por encontrá-lo altivo e destemido, no instante mágico dos seus 80 anos e constatar o fruto do seu grandioso trabalho transformador para aquela população, sempre esquecida pelo poder público.
Passei a acompanhar a obra do Pe. Leeb a partir de 1988, onze anos após sua chegada de barco a Porto do Mato, na região denominada Porto da Nangola, trazido do Rio de Janeiro por uma filha da terra sergipana, Joana Batista Costa. Quando eles chegaram à região, a miséria era extrema. Não existia acesso terrestre, os nativos viviam do pescado, as doenças grassavam, a mortalidade infantil beirava a níveis absurdos: de cada quatro crianças que nascia três morriam antes de completar um ano de vida.
Com a força inabalável da fé e a vontade de cuidar do sofrido povo do local, ele edificou uma obra portentosa. Com a “cruz da reconciliação”, um símbolo esculpido em madeira afirmando a presença do cristianismo, deu início a uma nova era na raquítica paisagem do sul sergipano. Fundou o Centro Esperança de Deus, um complexo que passou a acolher o povo da região, abrigando-o em múltiplas tarefas profissionalizantes, culturais e cristãs, com respeito absoluto às tradições locais. Oficinas, escolas, posto de saúde, pousada, foram edificadas e prosperaram ao longo dos anos, transformando o local numa pequena cidade, com quadra de esportes, restaurante, campo de futebol, entre outras.
Após 30 anos de dedicação plena e exclusiva à obra que edificou, mudando radicalmente as condições de vida da população, na semeadura do bem comum, no resgate da dignidade e da autoestima, Padre Leeb despediu-se de seu povo para o merecido descanso, feliz pelo cumprimento de sua missão. No entanto, quem tinha a obrigação de preservar esse patrimônio do povo de Sergipe, infelizmente não o fez e a comunidade passou a amargar o fel do abandono, do descaso e do descompromisso. Mas o obra está aí, clamando por ajuda para a retomada de sua missão.
Dedico-lhe um trecho de “Poema de Aniversário” do poeta e compositor Vinicius de Moraes.
“Passam-se dias, horas, meses, anos
Amadureçam as ilusões da vida
Prossiga ela sempre dividida
Entre compensações e desenganos.
Faça-se a carne mais envilecida
Diminuam os bens, cresçam os danos
Vença o ideal de andar caminhos planos
Melhor que levar tudo de vencida”.

A vida segue, Padre Leeb, e nós estaremos sempre a aplaudir o seu trabalho, lembrando e cobrando das autoridades a responsabilidade pela preservação do seu legado, que tantos benefícios trouxe para o sofrido povo de Porto do Mato.

Prost! Que tenha uma vida longa pela frente!

*Texto reproduzido do Facebook/Linha do Tempo/Lucio Prado Dias.

Foto: Marcelle Cristinne/Secult.

Postagem originária da página do Facebook/MTéSERGIPE, de 22 de março de 2014.

Falta de Educação de um "Filhinho de Papai", na Década de 60


Essa imagem me faz lembrar de um fato acontecido na década de 60, em uma tradicional tarde de domingo na Rua João Pessoa, em Aracaju/SE., na calçada ao lado do Cine Palace, onde grande fila tinha se formado para a compra de ingressos da sessão das 14 horas.

Junto ao meio fio da rua, havia uma grande quantidade de água, esta acumulada por uma chuva forte que acabara de cair.

Eis que um 'filhinho de papai' da época, passa com o carro propositadamente pelo canto da calçada, molhando a todos que estavam na fila.

Alguém lembra deste fato?
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Foto (ilustrativa) reproduzida do
Facebook/Linha do Tempo/Anne Vitória Montalvão.

Postagem originária da página do Facebook/MTéSERGIPE, de 22 de março de 2014.

Conheça a história de transformação do povoado Porto do Mato...


Publicado por: Infonet - Cidade - Especial - 06/09/2008.

Construção de uma cidade motivada pela força do amor
Conheça a história de transformação do povoado Porto do Mato, protagonizada pelo missionário Pe. Humberto Leeb

Porto do Mato, município de Estância. Uma comunidade distante pouco mais de 70 km da capital sergipana e o cenário ideal para colocar em prática a premissa “Só o amor transforma o mundo”. O personagem principal, padre missionário austríaco Humberto Leeb, que juntamente com Joana Batista Cosa, modificou a miséria de um lugar em um grande centro de referência social e religiosa na região, através do Centro Social Pastoral Esperança de Deus. Após 32 anos de trabalho, Leeb conclui seus trabalhos por ter completado os 75 anos de idade e deixa uma cidade completamente transformada para o desenvolvimento social e jovens multiplicadores do conhecimento e serviço ao próximo.

Como tudo começou ...

O trabalho iniciado pelo padre Leeb gerou reconhecimentos locais como o prêmio Líderes e Vencedores recebido no último dia 14, além de prêmios internacionais por sua atuação na guerra da Biafra e um legado de trabalho missionário como exemplo para qualquer cidadão com a missão de transformar o mundo. Mas para todo esse mérito acontecer, da saída da Alemanha à chegada em Porto do Mato com a atual construção do Centro Social, foi um percurso de ‘luta’.

“Chegando nessa comunidade em Sergipe, indicada por Joana, nativa do local, encontramos um deserto. 70% das crianças com menos de dois anos de idade morrendo por desnutrição, ou melhor, no esqueleto. Pessoas desesperadas sem ter o que comer e uma realidade comumente vista na guerra, só que não era guerra. Isso me inquietou”, lembra dizendo que o amor pode mudar o mundo.

Desde o seu começo, a obra pastoral beneficiou entre 5 e 10 mil crianças. “O Centro Social Pastoral Esperança de Deus foi a forma de chegar à população para construir um referencial de transformação das pessoas, social e religiosamente. Nesse espaço, foi possível um acesso de aprendizado profissional. Então, os jovens aprendiam habilidades de eletricista, marceneiro, professor, pintor, padeiros, entre outros”, diz. Pe. Leeb reforça que foi dada uma base para a comunidade trabalhar e modificar-se socialmente.

A vontade de ajudar ao próximo partiu de missão própria. “Fomos [o padre e Joana] à Europa e fizemos campanhas, arrecadamos dinheiro para a construção da obra. Não tem cunho político. Atualmente, o Núcleo agrupa um restaurante popular, posto de saúde, Oficina do Pão e a Pousada do Padre. Além de um complexo educativo com estádio, creche, ginásio, com mais de 552 alunos e professores da região que estudaram em Universidade”, conta. vangloria-se do último trabalho realizado que teve especial motivação a Geovana Olveira Lima.

Por que o Brasil? Sergipe? E Porto do Mato?

Leeb, que fez voto de pobreza, destaca que um dos pontos que mais chamou sua atenção foi a forma que os brasileiros encaram a vida. “Já passei em missão por diversos lugares onde vi sofrimento, mas o Brasil é impressionante, eles conseguem ver alegria mesmo estando em meio ao sofrimento. Isso realmente me chama a atenção porque em outros lugares não se vê isso. A beleza das cores, do calor humano, do futebol, dos índios, fez o austríaco vir para o Brasil e ter um carinho especial para me estabelecer”, conta.

Ele explica que poderia ter feito trabalhos em outros locais e fala de diversas campanhas internacionais que fez em países como Paquistão, Vietnã, Índia, Etiópia, mas a fé, juntamente com a vontade de ajudar ao próximo, e a beleza da região o fez optar por Porto do Mato.

Vitórias e missão cumprida

Reconhecimento é resultado do trabalho realizado. “Em 2004, alunos, filhos e filhas dos pescadores do Porto do Mato, foram à Europa mostrar um musical contando a história do local e do Brasil", conta. Em Viena e Monique, os jovens receberam muitos aplausos. Para Pe. Leeb isso mostra que os pobres também têm talentos que só precisam ser descobertos.

"Então essa foi a maior vitória. Hoje, minha missão está cumprida, entregarei a obra no final do ano, quando vou me desligar dos trabalhos por ter meus 75 anos de idade, conforme determina o posicionamento igreja", explica.

O padre completa que "tracei esperança onde tinha desespero e agora chega a hora de entregar tudo nas mãos dos brasileiros e escolhi a Igreja para a continuidade dos trabalhos do Evangelho Luz e Vida", (...)

[Publicado pelo Portal Infonet, em 6 de setembro de 2008].

Foto e texto reproduzidos do site: infonet.com.br/cidade

Postagem originária da página do Facebook/MTéSERGIPE, de 22 de março de 2014.

sexta-feira, 21 de março de 2014

Padre Humberto Leeb e sua obra.

Padre Humberto Leeb e sua obra.

Porto do Mato, Estância (SE)

Porto do Mato, uma antiga ilha de escravos e indígenas, localizado no município de Estância, no Estado de Sergipe, é um povoado situado no litoral Atlântico, distando cerca de 130 km de Aracaju.

É uma região indiscutivelmente banhada por uma rica história, desde a chegada dos padres jesuítas e, mais tarde, dos escravos vindos da África desembarcando no atual Porto da Nangola, seguido do bombardeio dos submarinos inimigos que afundaram a frota comercial de Baependi, na costa litorânea.

E nos últimos anos, destaca-se o trabalho do missionário austríaco Padre Humberto Leeb que modificou a paisagem de miséria e abandono em que mergulhava aquele povo devolvendo-lhe a condiçao de uma vida digna centrada no desenvolvimento social e na promoçao humana.

A regiao se destaca pela variedade de ecossistemas, aí incluídos os manguezais, dunas, praias, e rios, bem como uma paisagem verde que completa a atmosfera cheia de luz e beleza. [continua...]

Texto reproduzido do site: tvcultura.com.br/caminhos

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Foto reproduzida do site: agenciaalese.se.gov.br

Postagem originária da página do Facebook/MTéSERGIPE, de 20 de março de 2014.

Maria Lygia Maynard Mulher - Cidadã

Foto reproduzida do site: acertenamidia.

Publicado por A Tribuna Cultural, em 20/03/2014.

Opinião :

Maria Lygia Maynard Mulher - Cidadã. 
Por José Paulino da Silva *

Para comemorar o dia internacional da Mulher, o Congresso Nacional realizará em 25 de março próximo, uma Sessão Solene, ocasião em que entregará o Diploma Mulher -Cidadã Bertha Lutz, a cinco brasileiras, entre elas, à sergipana, Maria Lygia Maynard Garcez Silva. A inspiradora deste diploma, Bertha Lutz, foi uma militante da causa feminina, nascida em São Paulo em 1894, tendo vivido no Rio de Janeiro até 1976.

Fundadora da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino, Bertha Lutz é uma referência quando se fala em luta pela valorização da presença feminina na sociedade. Com este diploma, instituído há alguns anos, o Congresso Nacional quer cumprir o seu papel institucional de reconhecer e destacar a importante presença das mulheres em nossa sociedade. Como sabemos o Brasil desde os primeiros períodos de sua colonização até início do século XX, sempre reservou às mulheres um lugar subalterno, apresentando um histórico de país machista. Isto acarretou conseqüências negativas, na educação, nos costumes, no mercado de trabalho, na legislação enfim, no cotidiano da sociedade. Há, portanto, neste ato do Congresso, não apenas uma dimensão simbólica para dar maior visibilidade e vlorização à mulher, mas uma atitude eminentemente educativa, sobretudo para as gerações atuais e vindouras.

Pelo que sei, embora a outorga deste Diploma seja conferida pela maior Instituição Política de nosso país, os critérios de escolha dos nomes que são homenageados nada tem a ver com coloração política/partidária e ou ideológica. É a história de vida de cada uma das escolhidas que pesa na avaliação. O senado é muito parcimonioso na escolha. Apenas cinco mulheres de todo o Brasil são selecionadas a cada ano para esta honraria.

O nome da sergipana, Maria Lygia Maynard Garcez Silva foi proposto para análise e avaliação do Senado pela Associação Integrada de Mulheres da Segurança Pública em Sergipe. Trata-se de um procedimento que obedece a normas específicas sendo os nomes submetidos aos integrantes do Conselho do Diploma Mulher - Cidadã Berta Lutz do Senado.

Quem é Lygia Maynard Poderia situar o leitor com as seguintes informações: no âmbito familiar, a homenageada é uma exemplar esposa, mãe, avó, tia e sogra cuja base de atuação é o amor, o apoio, a dedicação a todos os membros de sua família. Como funcionária pública, foi uma gestora honesta e competente. Exerceu o cargo de Procuradora Federal, vindo a ser Presidente da Superintendência Nacional de Abastecimento (SUNAB) em Sergipe, quando atuou com justiça e firmeza, na delicada questão do controle de preços, em um dos momentos mais conturbados da economia brasileira, durante o primeiro ano do governo Sarney. É fundadora da Associação de Pais e Amigos dos Deficientes Auditivos de Sergipe (APADA), hoje uma ONG reconhecida de utilidade pública Federal, Estadual e Municipal, que após 22 anos de luta ininterrupta, tornou-se uma referência no Estado de Sergipe, atendendo diariamente a jovens carentes, encaminhando os mesmos para o mercado de trabalho, e cursos profissionalizantes.

Indagada como se sentia com esta homenagem, respondeu-me que não se sentia merecedora de tamanha homenagem, mas agradecia a Deus pelo pouco que pôde fazer com a vida que Ele tem lhe dado. È a partir desta sua visão de mundo e exemplo de vida que eu gostaria de acrescentar outros dados de seu currículo vitae que, no meu entender, a credencia receber este importante Diploma de Mulher Cidadã.

A construção da cidadania de um povo, é uma obra invisível na qual se costura o tecido social. Tecido este que é composto pelo entrelaçamento do misterioso fio da vida cotidiana de cada um. Se o ser humano em sua individualidade é fortalecido, valorizado, respeitado, a sociedade como um todo fica fortalecida. Se esta individualidade se esgarça, se enfraquece, se corrompe, automaticamente o todo sofre as conseqüências. A relação entre direitos e deveres e a sua concretização na vida de cada um é um dos indicadores para se reconhecer a cidadania em suas dimensões individual e social.

A homenageada é uma das pessoas cujas qualidades fortalecem e dignificam a cidadania brasileira como um todo. Autenticidade aliada ao senso de justiça é uma das marcas de sua personalidade. Estas qualidades lhe conferem um apurado amor à verdade, às coisas certas, corretas, sendo impossível sua convivência com a desonestidade, com 'mutretas', ou com o faz de conta. O jeitinho não faz parte de sua forma de agir. Por outro lado, tais qualidades não a tornaram uma pessoa misantropa, austera, ácida. Sua intransigência com as coisas erradas é movida pelo alto sentido de honestidade, zelo e amor à verdade, qualidades cujas raízes vêm do berço familiar no seio do qual foi criada. Sua refinada educação, jamais a distanciou do lado simples da vida do povo, jamais apagou seu gosto pela música, o amor aos times de sua predileção (Associação Desportiva Confiança, e Fluminense). Sua fé em Deus e suas convicções de católica apostólica romana, tem ajudado a compreender a vida como um bom combate que vale a pena combater,como lembra o apóstolo Paulo.

Se me pedissem, para resumir em uma palavra, a vida e a obra da homenageada Maria Lygia Maynard Garcez Silva, eu diria: integridade. Integridade cuja tradução melhor vou encontrar nestes versos do poeta Fernando Pessoa:

"PARA SER GRANDE, sê inteiro: nada
Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa. Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda
Brilha, porque alta vive" .

* Doutor em Filosofia e História da Educação.

Texto reproduzido pelo site: atribunacultural.com.br

Postagem originária da página do Facebook/MTéSERGIPE, de 21 de março de 2014.

quarta-feira, 19 de março de 2014

É a vida... ou a morte


(Justificando  a  Ausência).

É a vida... ou a morte

Tenho vindo muito pouco nestas paradas para comentar com vocês sobre a vida, principalmente a alheia, não é verdade? Agora me justifico.

Fui criado nas calçadas da noite para onde as famílias instalavam, depois do jantar, os seus melhores assentos, suas mais confortáveis cadeiras movidas da sala de estar para a fresca na calçada, onde se falava de um tudo, desde os achaques da tia incomodada com o seu inevitável caritó à virgindade da filha da vizinha, das piadas cruéis com os desafetos às invejosas menções aos conhecidos que progrediam enriquecidos com a aquisição de um novo sofá.

Sentadinho numa pequena cadeira de balanço e quase invisível, eu era todo ouvidos aprendendo os meandros da vida social e os truques da boa conversa. Desde então, venho me dando muito bem quando converso. Aqui nas redes sociais, na mesa de um bar, na fila do supermercado, na ante- sala dos poderosos cooptando intransigentes secretárias ou simplesmente em casa, agradando a uma visita com um papo que a incentive a voltar.

Mas o que eu quero é lhes dizer que ando meio ausente do Facebook, macambuzio por questões de vida ... ou morte. Diabético, senti umas chuchadas no peito do pé, um sintoma alarmante que, se não cuidado, levará à gangrena e à amputação, o que me levou imediatamente ao médico, de onde saí com uma caralhada de exames prescritos e com o susto aplacado: com certos cuidados não será grave. Só que o plácido doutor, candidamente me receitou uma picada diária de insulina, o que eu sempre temi. Coisa mais sem graça!

O bocapio de remédios que ele prescreveu chegará amanhã, quando eu terei que começar a obedecer a uma intrincada tabela, complicadíssima, com ingestões programadas meia hora antes, quinze minutos depois e durante as refeições, tarefas às quais eu tenho que me adaptar com enorme prejuízo para minha pobre cabeça que não esperava isto, tão ocupada em inventar tranquilidades cotidianas que me permitam poetar a vida a cada instante sem tantas obrigações. A partir de agora devo passar o dia fazendo contas, engolindo a pílula certa. esquecendo aquela, tomando o remédio errado, ô cabeça de vento! Já não vai mais valer a pena falar da vida alheia, a minha será sempre mais miserável.

Hoje decidi matar as latinhas que me sobram, relatando o meu miserê para vocês. Mas por favor, não me venham com emplastros, chás milagrosos, indicações médicas de comprovada eficiência ou comiserações que tais, que não me interessam. O meu médico é caro e é exclusivamente a ale que eu ouço.

Agora sim!

Amaral Cavalcante.

Postagem originária da página do Facebook/Minha Terra é SERGIPE, de 12 de março de 2014.

terça-feira, 18 de março de 2014

Bandeira de Aracaju, um dos símbolos oficiais de Aracaju


Aracaju - 159 anos.

A Bandeira de Aracaju é um dos símbolos oficiais do município de Aracaju, capital do estado de Sergipe, Brasil.

Seu desenho é baseado no da Bandeira Estadual, ou seja, possui quatro listras horizontais de mesma largura nas cores verde e ouro intercaladas. No lugar do cantão superior esquerdo está um campo branco com altura e largura equivalente à metade da largura total da bandeira. No centro do campo branco está o Brasão de Aracaju.

Fonte: Wikipédia, a enciclopédia livre.

Postagem originária da página do Facebook/Minha Terra é SERGIPE, de 16 de março de 2014.

Brasão de Aracaju completa 59 anos de história (2014)


Aracaju, 159 anos.

Brasão de Aracaju completa 59 anos de história.

No dia 17 de março se comemora o aniversário de Aracaju (159 anos). É importante os aracajuanos conhecerem e homenagearem um dos símbolos mais importantes da cidade: o Brasão de Armas, que completou 59 anos em janeiro, ou seja, é um século mais jovem do que a capital sergipana.

Criado pela lei n° 6, de 27 de janeiro de 1955, o Brasão de Aracaju, como afirma o professor do Centro Federal de Educação Tecnológica de Sergipe (Cefet-SE) e historiador Amâncio Cardoso, "pode ser fonte preciosa para conhecermos a história através das simbologias heráldicas e para entender a construção de nossa identidade". Desse modo, o brasão é capaz de fornecer algumas informações relevantes sobre a história da cidade.

O professor Amâncio observa, ainda, uma característica curiosa do brasão aracajuano, ou melhor, uma falha cometida em sua confecção. Desenhado pelo artista plástico Florival Santos, o símbolo apresenta a base do escudo em formato francês quando deveria possuir o formato português, como instituiu a lei n° 6 de 1955.

"Observando o escudo, pode-se perceber que sua base possui um bico à ponta e ângulos inferiores curvilíneos. Para tal equívoco ser corrigido é preciso que mudem a base do escudo para o formato arredondado. Desse modo, o brasão não passaria mais a falsa ideia de que Aracaju fora colonizada por franceses", revela Amâncio.

Olhar rapidamente o Brasão de Aracaju pode despertar uma série de interpretações nos leigos que se interessam pela história da capital sergipana. A cruz, o cata-vento e o sal, o coqueiro e a roda dentada, entre outros elementos presentes, dizem muito sobre o povo, a economia e a política locais. Vale à pena dedicar algumas horas desvendando os detalhes dessa valiosa simbologia.

Fonte: CARDOSO, Amâncio. Brasão de Aracaju: cinquentenário de um símbolo. Jornal da Cidade. Aracaju, 17 de março de 2005. Edição especial do sesquicentenário.

Imagem e texto* reproduzidos do site: swapi.com.br
*Texto editado para atualização.

Postagem originária da página do Facebook/Minha Terra é SERGIPE, de 16 de março de 2014.

quinta-feira, 13 de março de 2014

Josias Passos

Publicado por Osmário Santos/Memórias, em 07/03/2014.

Josias Passos.
Por Osmário Santos.

Sempre foi decidido, nunca gostou de rotina e, por isso, deu-se bem no trabalho. Um homem guiado pelo tino comercial. De Saco do Ribeiro, povoado de Itabaiana onde é hoje Ribeirópolis, ele é de uma região que deu frutos de natureza comercial.

Por aquelas bandas nasceram Oviêdo Teixeira, Mamede Paes Mendonça, ele e outros que bem souberam aproveitar o sangue de suas veias fenícias, sabendo tirar proveito da herança de seus antecedentes.

Quando jovem, chegou a ser professor. Concluiu o primeiro grau com boas notas e foi convidado a ensinar, passando um pouco do seu saber aos meninos de Saco do Ribeiro.

Gostava de ensinar matemática, pois tinha facilidade com os números desde pequeno. Chegou a ser chamado de professor Josias, com grande significação para aqueles que receberam os seus ensinamentos. Ensinou em escola primária, mas continua impregnado do espírito de mestre, sempre passando adiante o seu saber, conquistado com esforço ao longo dos seus 76 anos de freqüência constante à universidade da vida.

É uma pessoa de comunicação fácil e que sabe atingir com precisão os seus objetivos. Quando quer uma coisa, ninguém segura o homem. O escritor escocês Robert Louis Stevenson disse: “Todos nós, mais cedo ou mais tarde, somos forçados a tomar lugar num banquete de conseqüências.” De há muito, Josias Passos vem consientemente tomando parte desse banquete, sempre dentro das regras, aplicando a lógica que foi sistematizada por Aristóteles, pautando sua vida no caminho da coerência.

Uma parte de sua vida foi reservada à música. Seus ouvidos ouviram muitos dobrados, na época que fazia parte da banda de música da sua cidade natal, tocando clarineta. Trilhou o caminho da Justiça, sendo adjunto de promotor público do termo de Ribeirópolis, no período de julho de 1936 a fevereiro de 1945, nomeado pelo então interventor federal Eronildes Ferreira de Carvalho. Sempre gostou de política e com ela esteve envolvido por algum tempo. Ocupou o cargo de secretário-tesoureiro da Prefeitura Municipal de Ribeirópolis por cinco anos. Sempre os números... Foi agente de estatística durante dez anos e, em 1940, chefia o recenseamento da sua encantada Ribeirópolis.

Um homem de percepção, que sabe acompanhar o tempo. Junto com o filho e mais sete colegas fundaram a TV Sergipe. Foi com Josias à frente do grupo, sabendo cavar as oportunidades, aproveitando um coquetel, já aquecido nas devidas proporções, para falar com o ministro das Comunicações, coisa que não conseguia via gabinete ministerial, para solicitar a concessão de uma TV para Sergipe. Recebe um sim do ministro. Não acreditou! Mas o fato se concretizou.

Explosivo quando pisam nos seus calos, mas com “um coração que concilia as coisas contrárias”, como bem disse o francês La Bruyère. Fez a volta ao mundo por duas vezes, conquista que considera de grande valor na sua vida.

Foi presidente da Associação Comercial de Sergipe no período de 1975 a 1979, quando teve a honra de participar de um seminário na Câmara Brasil–Estados Unidos. Exerceu a presidência do Clube de Diretores Lojistas de Aracaju no período de 1968 a 1970. Ocupou a presidência do Sindicato dos Lojistas por sete anos consecutivos.

FOLCLORE - Um Josias Passos de muito folclore, de muitas histórias, como aquela de que a cidade de Maceió deveria se chamar “Bomceió”. São tantas que daria um bom livro, como admite na sua cativante simplicidade. Um Josias marido exemplar, casado com Creildes de Oliveira Passos, companheira de todos os momentos, que só lhe tem dado conforto, alegria, ajudando no seu progresso. Pai dedicado aos cinco filhos, é um avô que curte os netos e que fica super feliz quando reúne a todos na chácara em São Cristóvão. Haja felicidade!

Josias Passos é um exemplo de comerciante que honra a sua classe. Continua dedicando-se ao trabalho. Continua na ativa no Clube de Diretores Lojistas e, nas reuniões, brinda a todos com suas sábias interferências.

Cinco horas da manhã já está acordado. Daí até chegar a hora do café, o hábito da leitura. “Depois do meu cafezinho, vou andando até o trabalho, chegando entre oito e meia e nove horas.” Assim começa o dia do comerciante Josias Passos.

31 ANOS DE SACO DO RIBEIRO - No dia 28 de janeiro de 1914, em Saco do Ribeiro, nasce Josias Passos, filho do casal Maria do Céu e Felimino da Costa Passos. Seu pai era comerciante e agricultor de plantar feijão, mandioca e fazer farinha. Comerciante do ramo de secos e molhados.

Era gente importante e querida na cidade. Chegou a ocupar o cargo de sub-delegado de polícia. Pessoa valente, educou os filhos à custa de muito trabalho. Josias herdou muitos ensinamentos do velho: “Meu pai tinha amor ao trabalho, bom senso, de forma que herdei muitos ensinamentos, que hoje se tornam novos e que transmito aos meus filhos.

Era muito ponderado, do diálogo, nunca foi violento, um homem que estava na cabeceira dos homens de bem da região.” De 1914 até 1945, sua vida foi vivida em Saco do Ribeiro. Fez até o quinto ano primário, “o que existia para aquela região.” Bom aluno, continuou recebendo os ensinamentos “da competente professora Cacilda”, que ensinava ao Josias “naquele tempo, vamos dizer, o curso secundário.”

Em troca das aulas especiais, pois o ensino só chegava até o primário, Josias também dava aulas, tendo sido professor por um período de três anos. “É verdade! Me chamavam de professor Josias”.

Ensinava todas as matérias. Vou ser franco: não tinha especialidade, mas confesso que sempre gostei de matemática.” Josias fez sucesso como professor. “Ensinava todos os alunos do primário: já estava formado no quinto? Com galhardia, não é? Nota boa, diploma e, naquele tempo, sem ofensa a ninguém, o ensino era mais sério do que hoje.” Ensinava pela manhã e recebia de recompensa aulas do secundário pela tarde. “Estudava mesmo, não tinha dúvida, quebrava a cabeça.” Depois do feito de professor e aluno, finda a fase secundária, passa a seguir a “universidade da vida”, iniciando com a ajuda ao pai no comércio, nos dias de feiras.

SEMPRE FELIZ - “Sempre fui muito feliz. Na minha infância, brinquei, me distraí.” Com os irmãos e seus amigos, uma boa turma que dava mais vida ao Saco do Ribeiro. Aos dezesseis anos, entra oficialmente no ramo do comércio, montando o próprio estabelecimento comercial, contando com a ajuda do pai. “Ele me ajudou na instalação e aí segui no mesmo ramo de estivas e molhados, montando a Casa Oriente, pois no meu modesto estudo tinha uma simpatia pelo Oriente, por isso e aquilo outro.

Oriente é uma coisa que está se levantando, não é? Vai em progresso, no meu entender.” Foi no dia 29 de julho de 1939 que estabeleceu-se no comércio. Mas a Casa Oriente foi registrada com o nome do seu genitor, pelo fato de não ter alcançado ainda a maioridade. Na primeira feira, tirou mil réis, um bom dinheiro para a época.

Também foi precoce na política, pela qual foi apaixonado. Com o seu jeitinho, consegue votar antes do tempo previsto na lei. Aos 16 anos, e um pacote político previamente preparado, entra na prefeitura para ocupar o cargo de secretário-tesoureiro.

ADJUNTO DE PROMOTOR E LÍDER POLÍTICO - Quanto ao ingresso na Justiça como promotor público adjunto, ele disse: “Naturalmente eles achavam que eu tinha uma modesta competência e que podia exercer bem o cargo. Por nove anos exerci esse cargo em Ribeirópolis.”

Chegou a ser candidato a cargo eletivo, já no tempo em que residia em Aracaju. Contava com as experiências de Saco do Ribeiro: “Não era um chefe político, mas um auxiliar forte.” Cabo eleitoral? “Naquela época não se explicava nem se chamava cabo eleitoral. A pessoa de confiança do chefe é que coordenava todos os segmentos.” Fazia campanha? “Não tenha dúvida.” Partido? “No tempo de Eronildes era poder discricionário, depois veio a União Republicana de Sergipe, que tinha como chefe o Dr. Augusto Leite. Algum tempo depois passei para a UDN. Desde a minha juventude, me filiei à política chefiada pela família Franco. Comecei por Zezé Franco, conhecido por Zé do Pinheiro, depois veio o Walter com muita influência e Dr. Augusto chegou no fim.”

Sua admiração política pela família foi fruto de uma amizade que iniciou pelas passagens por Ribeirópolis, em diversas vezes, do coronel Antônio Franco, que tinha fazenda para o lado de Carira. “Na sua passagem, havia palestras e boas conversas. Nos tornamos amigos. Veio a política e nisso ingressamos com a família Franco.” Josias lembra que naquele tempo não havia comício, aconteciam reuniões e encontros nas portas das lojas e na feira.

UM BOM NAMORADOR - “Meu tempo foi bom, viu? Idade boa! Freqüentava as festinhas da redondeza: Frei Paulo, Itabaiana, Dores, Nossa Senhora da Glória e até Serra Negra. A gente farejava as festas e ia de bicicleta a motor. Só tínhamos eu e Gumercindo Góis, meu companheiro de farras. Quando o barulho das máquinas chegava aos ouvidos das meninas, a festa estava feita. Chegávamos, éramos bem atendidos, bem recebidos e voltávamos tarde da noite ou no outro dia, conforme as coisas. Enfrentamos as estradas de piçarra com grande segurança, pois nossas máquinas eram alemãs e não quebravam. Era um colosso!” Tinha garupa? “Tinha, mas nós carregávamos combustível.” Não dava para carregar ninguém? “Carregar quem? Um concorrente eu não queria carregar.

Uma mulher, naquele tempo, não se usava, era um tempo todo diferente.” Namorava muito? “Um bocado. De noivar não! De conversa, galanteio, nunca gostei de compromisso.” Nisso, a sua fama de conquistador circulava. “Namorava uma menina em Frei Paulo, acabava, às vezes tinha um pai na dança, cortava logo. Compromisso não era comigo.”

O CASAMENTO - Mas acabou se comprometendo. Em janeiro de 1940, casa em Ribeirópolis com Creildes de Oliveira Passos. Conheceu aquela que seria a esposa lá mesmo. “Filha de um fazendeiro da região de Porto da Folha que fugiu de sua propriedade com medo de Lampião, montando uma casa de negócio em Ribeirópolis”, fato que até hoje o coração de Josias agradece. Afinal, até Lampião o ajudou. “Pouco tempo de namoro: meu negócio sempre foi muito decidido.

O sujeito namora para casar, o que adianta passar dez ou mais anos para isso? Casei logo, liquidei a fatura.” O casal teve cinco filhos: Getúlio Dantas Passos, Sônia Passos, Josias Dantas Passos, Suzana Dantas Passos, Gonçalo Dantas Passos. Treze netos, três noras e dois genros formam a família Passos.

TRANSFERE-SE PARA A CAPITAL - No ano de 1945, transfereriu-se para a capital, permanecendo no ramo do comércio. Já estava com um bom capital, pois soube aproveitar bem as oportunidades surgidas com a Segunda Guerra Mundial. “Quando estourou a guerra, eu estava no Recife, participando de um Congresso Eucarístico Nacional e aproveitei a oportunidade em face dos ensinamentos que recebi do meu pai, com a Primeira Grande Guerra. Eu me danei a comprar mercadoria alemã.

Tomei dinheiro emprestado a seis colegas ecomprei canivetes, cornetas, navalhas, agulhas, tesouras, papel para cigarro e facão. O que vinha da Alemanha, comprava. Me estoquei, faltou mercadoria e, como só eu tinha, ganhei muito dinheiro, pois comprava por dois e vendia por cem.”

PRIMEIRA LOJA EM ARACAJU - Na Rua da Frente, num boxe do Prédio Vaticano, Josias iniciou sua vida no comércio em Aracaju. Sofreu graves conseqüências de um incêndio na firma Pedro Paes Mendonça, bem nas imediações da sua loja. “Foi um incêndio tenebroso. Basta dizer que para acabar o incêndio veio uma bomba do Vale do São Francisco.

Os bombeiros de Salvador já estavam preparados para atender ao chamamento do governador de Sergipe, não vindo graças à presença de um navio, que trabalhou com duas bombas de duas polegadas dia e noite, para não acabar com o Vaticano.”

O COMÉRCIO DE ANTES E DE HOJE - “Naquela época, o comerciante vendia com um lucro baixo, uma média de 10% a 20%, no máximo, bruto, sujeito a todos os impostos: luz, água, empregados. O padrão de vida naquele tempo era modesto, só gastava 10 quando ganhava 15. Depois, as coisas foram se modificando e o comércio passando por essas transformações. Mas a maior crise hoje é a gente gastar mais do que ganha. A outra desgraça é a inflação: quando cheguei em Aracaju, vendia com 20% de lucro bruto. Dava para tudo e ainda comprei alguns imóveis que hoje possuo. Depois dessa inflação, se vende com 100, 200 por cento e nunca mais pude comprar um chão de casa. Apenas conservamos o patrimônio. Considero a inflação, depois da guerra, como a pior desgraça do mundo.”

UM DOS FUNDADORES DA TV SERGIPE - A idéia foi de Francisco Franco e Nairson Menezes. “Chico convidou a mim e ao Getúlio, nós nos reunimos e fundamos a TV Sergipe. Cuidou-se da venda de ações. Fui o seu diretor-presidente na fase de instalação e do licenciamento, quando comi o diabo. Passei muitos dissabores, mas consegui montar a estação de televisão. Quando viajava para o Rio, recebia a gozação do pessoal da Tupi, que dizia que estávamos instalando um ferro-velho.”

Josias viajou muito para resolver os problemas da instalação da TV Sergipe.

“Muitas vezes, para falar com o ministro eu tinha de soltar uma gorjeta para um preto que antecedia a sala. Com a peste junto. Chegamos a ficar desenganados. Um belo dia, já com as instalações prontas, equipamentos comprados e instalados, eu fui convidado para a inauguração de uma casa maçônica em Porto Alegre. Lá pelas tantas, na força do uísque, já no foguinho, eu e o Paulo Vasconcelos, disse: ‘Paulo, sabe de uma coisa, o ministro está aí e nós vamos falar com ele’. Paulo não topou.

Fui ao ministro, nos encontramos num cantinho e contei a novela da nossa TV. No fim da nossa conversa, que foi longa, ele disse: ‘Senhor Josias, o senhor pode se preparar que até o fim da próxima semana o senhor receberá uma comunicação para vim pagar a taxa de registro’. Fiquei arrepiado, tão satisfeito, não sabendo como agradecer tal atitude.

Porém, não fiquei acreditando, pois ali estava na onda do uísque. Estávamos com três anos com a televisão pronta, sem pode funcionar. Mas chegou o momento culminante de emoção de minha vida. Num sábado, recebo um telegrama do ministro me convidando para pagar a taxa de licenciamento.

Tive tanto prazer que chorei!”

CIDADÃO ARACAJUANO - Por indicação do então vereador Luciano Prado, Josias Passos foi aprovado pela Câmara de Vereadores de Aracaju para receber o título de cidadão aracajuano, honraria não concedida até hoje. Pede desculpas e espera uma oportunidade para receber o seu diploma.

Foto e texto reproduzidos do site: osmario.com.br

Postagem originária da página do Facebook/MTéSERGIPE, de 13 de março de 2014.

Vida social na década de 60

Foto reproduzida do Blog Antiguidade Coleções e Artes de Waldemar Neto.

Vida social na década de 60

Quando eu era adolescente existiam costumes bem diferentes na minha cidade.

A primeira sessão do Cinema Palace as 14 h do domingo era o máximo entre os jovens. Ali as paqueras aconteciam e os namoros também. Faltar a uma sessão do cinema Palace era um sacrilégio.

Quando eu aprontava alguma durante a semana e o castigo era não ir à primeira sessão do Palace, era o mesmo que dizer que o mundo ia se acabar. Como todo adolescente, eu dramatizava e ficava para morrer...

As moças passavam a semana esperando a chegada do domingo para poder ver os rapazes que ficavam no saguão esperando a chegada delas. Tínhamos que entrar no cinema através desse saguão e fatalmente acontecia um desfile, embora que involuntário, de todas as moças que iam ao cinema naquele dia.

Após a sessão do cinema, acontecia a matinê dançante da Associação Atlética de Sergipe, onde rapazes e moças se reuniam para dançar até as 18 h. Ali também, aconteciam as paqueras e os namoros.

O salão era bem iluminado, as moças ficavam sentadas às mesas e os rapazes, em blocos, ficavam em pé na borda do salão. Reconheço que era preciso coragem para um rapaz atravessar o salão e tirar uma moça para dançar. Na minha família era proibido, a qualquer uma de nós, recusarmos uma dança a um rapaz. Querendo ou não, tínhamos que levantar e dar, pelo menos, uma volta no salão com o rapaz que por acaso se aventurasse a nos tirar para dançar.

Ah! E para encerrar o domingo com chave de ouro, à noite tinha a retreta da Praça Fausto Cardoso. Era um desfilar sem fim de moças para lá e para cá. Saíamos andando da Praça Fausto Cardoso e íamos pela Rua João Pessoa, até a esquina da Rua São Cristóvão, olhando as vitrines das lojas, que os comerciantes as arrumavam especialmente com esse fim. Eu, particularmente, estava mais interessada em olhar os rapazes do que ver vitrines. Se me perguntassem o que vi de bonito nas vitrines pouco saberia dizer. Mas, cumpria aquele ritual todos os domingos. Fico pensando, se todo mundo sentia o mesmo que eu... Porque se sentiam, coitados dos comerciantes!

Tudo, em Aracaju, tinha hora para começar e para terminar. Às 21h acabava a retreta e todos iam para casa para ficar a espera de mais um domingo para começar tudo de novo.

Olhando para trás, vejo que eram programas bobos, mas que faziam a nossa alegria.

Sei de namoros que começaram aí nesses lugares, transformando-se em noivados e depois em casamentos que perduram até os dias de hoje. Como, por exemplo, posso citar o de meu irmão Guerrinha com Tetê. Foi numa retreta da Praça Fausto Cardoso que ele me mostrou Tetê e me disse que ia namorá-la. Ela era uma das moças mais bonitas de Aracaju. E eu, romântica toda, dei a maior força e fiquei torcendo por eles.

Nesses lugares também foram iniciadas pequenas amizades, que com o passar do tempo, transformaram-se em grandes amizades. Amizades essas que foram capazes de atravessar anos a fio sem sofrer um arranhão sequer na confiança conquistada.

Nessa época aconteciam festas tradicionais que eram realizadas todos os anos: o baile das News Faces e o baile das Debutantes. Bailes de gala que aconteciam nos salões de festa do Iate Clube de Aracaju ou da Associação Atlética de Sergipe.

O baile das News Faces era uma pré-apresentação das moças que iam adentrar na sociedade aracajuana. Eu participei de um desses bailes... Fui uma New Face... Interessante esse costume... Naquela época todo mundo conhecia todo mundo, mas as moças tinham que ser formalmente apresentadas à sociedade. Pensando bem, era muito estranho esse costume.

O baile que participei foi na Associação Atlética de Sergipe. Tivemos que cumprir um ritual de ensaios chatos e cansativos. Ainda lembro-me do meu vestido: era de organdi cor de rosa (a cor que as News Faces podiam vestir) todo bordado em caminho sem fim com fitas e com pérolas. Um luxo! Mas que vestidinho incômodo... O organdi me espetou a noite toda e as pérolas na hora que sentava... Um suplício que tive de suportar a noite toda. Também foi a única vez que vesti aquele vestido.

As moças abriam o baile dançando a primeira valsa com os pais. Ah! Foi o momento que mais gostei... Papai era um pé de valsa maravilhoso e eu adorava dançar com ele. Éramos um par perfeito de dançarinos, saímos deslizando pelo salão como se tivéssemos asas nos pés e eu me sentia nas nuvens toda vez que dançávamos. Também, ele foi meu professor de dança e tínhamos um ritmo igual. E sei que papai também se sentia assim, pois certa feita, anos mais tarde, ele me disse que eu era leve como uma pluma e que gostava de dançar comigo. Oh! Papai... Que saudade!
Dancei a segunda valsa com meu herói... Meu irmão Guerrinha que é um excelente dançarino também. E a partir daí, as News Faces podiam dançar com todos os que as tirassem para dançar.

Já o baile das Debutantes, não quis mais participar... Para mim bastou o suplicio do baile das News Faces, era um baile mais pomposo, mais luxuoso e mais cheio de frescuras. Até catalogo com fotos das moças que participavam era confeccionado e distribuído na hora do baile. Agradeço a Deus o fato de meus pais terem aceitado a minha decisão de não querer participar.

Tinham também as festas de quinze anos nas casas das famílias. As moças que não participavam dos bailes de apresentação, geralmente, realizavam essas festas particulares. Duas me marcaram e lembro muito bem delas... A de Gilza Calumbi, pois fui uma das quatorze moças que dançaram a valsa com ela. Engraçado... Não consigo lembrar quem foi meu par. Todas estavam de vestidos cor de rosa... De novo! Eita corzinha mais sem expressão. Não sei quem inventou que a cor de rosa era a cor oficial das moças de Aracaju.

Mas, a que mais me marcou foi a festa de quinze anos de Leda Ramalho, no dia 04 de dezembro de 1965. Foi lá que meu namoro com Tadeu começou... Namoro esse que se transformou em noivado e depois em casamento e que me rendeu dois grandes tesouros, meus filhos Vinicius e Breno.

E os desfiles de modas? Participei de um desfile da Fabrica de Tecidos Confiança que foi realizado no salão de festas do Iate Clube de Aracaju. Desfilei com dois modelos: um era branco com listas fininhas azuis e com um peitilho bordado em vermelho e o outro era de alças, a parte de cima branca e a saia de babados coloridos em cores bem fortes. Foi uma experiência e como tal valeu, mas não gostei de enfrentar a passarela com todo mundo me olhando e se encerrou aí a minha vida de manequim.

Uma coisa que não posso deixar de falar: nas festas do Iate era terminantemente proibido a uma moça chegar à balaustrada do clube que dá para o rio Sergipe. O nosso limite eram as portas envidraçadas que davam para as varandas. Mesmo que estivéssemos morrendo de calor, tínhamos de ficar no salão, pois moça de família não podia ir à balaustrada. É... Tempos estranhos aqueles... Fico me perguntando que mal haveria em uma moça chegar à balaustrada para sentir a brisa do vento no rosto? Mas, naquela época era um costume e os costumes eram feitos para serem respeitados.

Quero abrir aqui um parêntesis para falar de um costume da época. O laquê. Meu Deus, que coisa mais horrorosa. Quando participávamos de qualquer evento de gala e íamos aos salões de beleza para arrumar os cabelos, os profissionais faziam uns penteados rebuscados e enchiam a nossa cabeça de laquê. Parecia uma cola líquida com um cheiro forte e que dava um trabalho enorme para tirar no outro dia. Coitados dos rapazes que dançavam conosco, tinham que sentir aquele cheiro forte. Não sei como não ficavam embriagados. E nós ficávamos com os cabelos parecidos com os cabelos dos manequins de vitrine, duros... Que costume mais besta aquele... Ficávamos parecendo que estávamos com umas couraças nas cabeças. Eu, particularmente, detestava, mas não podia fazer nada, pois naquela época essas coisas eram decididas por minha mãe e eu tinha de aceitar, achar bom e ainda colocar um sorriso no rosto. Legal, isso não? Mesmo que estivesse me sentindo um astronauta em pleno baile. Mas, justiça seja feita, das mães da época, minha mãe era a mais compreensiva e mais amiga das filhas do que muitas que conheci e conheço.

Confesso que para mim, uma aquariana legítima, amante da liberdade e da independência, foi bem difícil viver naquela época. Mas, ao fazer o balanço de perdas e ganhos, vi que meu saldo de ganhos foi positivo e o das perdas negativo.

O legal disso tudo, é que, hoje, ao escrever essa crônica dei muita risada sozinha, lembrando desse tempo que vivi e que adorei tê-lo vivido.

Tudo isso aconteceu na década de 60... Os nossos anos dourados!

Ah! Que saudade daquele tempo. Um tempo de grandes transformações e fomos co-participantes dessas transformações. Cobaias de um novo tempo.

Algum dia, ainda, escreverei sobre essas transformações.

Aracaju, 09 de novembro de 2008.

Fernanda.

Postagem originária da página do Facebook/MTéSERGPE, de 28 de dezembro de 2011.

terça-feira, 11 de março de 2014

Clair de Lune

Miró: "Clair de Lune"

Clair de Lune

Detardinha o perdulário aqui costuma ir ao sorvete. Virou luxo. Ali perto dos lagos da Orla, na Atalaia, tem um lugar maneiro com sorvetes dietéticos e mansas mesinhas com vista pro jardim. Boto um calçãozinho leve, pós-moderno, uma camisa churriada que eu mesmo reabilitei aparando as mangas (gosto delas assim) e vou, luxento e faceiro, ao meu Clair de Lune.

O que tem de turista de chinelões novos com ar de babaca, nem dá pra contar, mas o sossego delicioso me permite matutar a vida e espanar da cabeça a poeira do dia, abancado entre estranhos que não me cobram nem um boa-tarde.

È uma delícia!

Disse é? Mas já era. Arquibaldo, também chamado no Colégio Agrícola de Sarrabuio do Cão, me descobriu lá. Inda me fiz de manco numa retirada infeliz que não deu certo. Arquibaldo partiu gritando -Tonho! Tonho Amaral, quanto tempo! E não vinha só: arrastava Dona Ilka aos trancos, entre as mesinhas. Encangado nela um Arquibaldinho choroso, querendo já-já o seu sorvete.

Balbuciei com a boca cheia de mangaba – Oi! Você é Sarrabuio do Colégio Agrícola? Não mudou nada!
Ele, impando e feliz, abancou-se: - Esta é a minha esposa! E você, já casou?
Dona Ilka, um chouriço de cinta e colares de conta, atalhou o vexame:
- Muito prazer! Arquibaldo, o menino quer sorvete!

Sabe como é, leitor: casar, casei uma caralhada de vezes, mas quem vai explicar ao Arquibaldo que não é bem assim, que há casamentos e casamentos, outras opções, sinuosas justificativas. Enfim... que trabalho danado me deu lhe responder:

- Não, fiquei pra titia.

Daí, seguiu-se um baita constrangimento: ele arrastando os pés sem saber o que dizer até que dona Ilka, percebendo o impasse, acudiu:

- Venha, menino, vamos se servir. E com o jeitinho que as matronas têm, como quem abre pregas numa saia justa, salvou o momento:

- Vocês têm muito do que lembrar.

De fato: Arquibaldo fora companheiro meu nas molecagens do Colégio Agrícola do Quissamã, internos na década de cinquenta em regime prisional. Ele, rei da contravenção e eu, seu fiel adjunto. Cré com cré. Se havia que roubar goiabada no refeitório ou mesmo impor moral na fila do banheiro, nóis tava lá. Fugir, fugimos muito para os pomares da vizinhança e tínhamos na palma da mão os rios da região. Fugindo certa vez de carona na carroceria de um caminhão de carvão e chegamos em Aracaju tão sujos e desabonados que foi só chegar e voltar mais que depressa - que assim a polícia prende.

Ficamos então na sorveteria frente a frente pela eternidade de dois suspiros, até que Arquibaldo me fitou com a meiguice juvenil que eu julgava perdida:

- Tonho, eu lembro sempre de você E tocou, como um anjo remido, a minha infame cabeleira branca.

A lua inchou em busca do horizontes e eu fui pra casa ouvir Debussy.

Amaral Cavalcante

Postagem originária da página do Facebook/Minha Terra é SERGIPE, de 4 de março de 2014.