quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

Os Braganças



Fotos: três gerações de Braganças.


Publicado originalmente no Facebook/Lúcio Prado Dias, em 06/12/2015.

Os Braganças.
Por Lúcio Prado Dias.

Neste sábado aconteceu o 90º aniversário de Bragancinha – Francisco José Plácido Tavares de Bragança – figura admirável da história médica de nosso Estado, professor pioneiro da Faculdade de Medicina de Sergipe e cirurgião de escol que fez escola para alunos e admiradores. Eu me incluo entre eles.

Nenhuma outra família entronizada em Sergipe tem uma árvore tão geneticamente ligada à Medicina como a família Bragança. Isso como resultado do que pude observar em ligeira e despretensiosa consulta, gerada pela necessidade de obter dados para o nosso Dicionário Biográfico, que foi lançado em 2010. E o tronco principal dessa árvore está situada em Laranjeiras que, na segunda metade do século XIX, era a cidade mais próspera do Estado.

A povoação que se tornou Vila em 1832 situava-se geograficamente próxima da Capital, mas ficava longe pela precariedade dos meios de transportes, quase que exclusivamente através de barcos. Por outro lado, estava colocada num patamar de salubridade e comércio acima da antiga e da nova sede de governo, São Cristóvão e Aracaju.

O primeiro Bragança médico a chegar a Laranjeiras é Francisco Alberto de Bragança, no final dos anos 30 do Século XIX. Nascido em 1816, em Salvador, filho de Aleixo João de Bragança e Ana Joaquina do Sacramento, Francisco forma-se pela Faculdade de Medicina da Bahia, primaz do Brasil, em 1836. Curiosamente, ele possuía um irmão chamado Antonio Militão de Bragança, também médico e formado no mesmo ano, que chega a concorrer a uma cátedra na Faculdade de Medicina da Bahia, mas que, em função de doença, morre precocemente em Laranjeiras para onde se desloca em busca de tratamento. Em sua homenagem, Francisco dá ao seu único filho varão o nome do tio: Antonio Militão de Bragança.

Mas voltemos aos ancestrais. O ramo brasileiro da família Bragança começa com a chegada a Recife, em 1811, do comerciante português Aleixo João de Bragança, oriundo da província ultramarina de Gôa, do Portugal da Ásia. Sua vinda se dá em função do comércio de açúcar, que passa por grande prosperidade em Pernambuco. Ele casa-se com uma filha da viscondessa de Valcáver, Ana Joaquina do Sacramento, de descendência holandesa, dedicando-se à fabricação e exportação de açúcar. Desse casamento nascem dois filhos: Francisco Alberto de Bragança e Antônio Militão de Bragança, que se formam ambos em Medicina em 1836.

Após a formatura, Francisco aporta em Penedo, onde permanece por dois anos e depois segue para Laranjeiras onde fica por oito anos. Transfere-se para Estância, mas dois anos depois retorna para Laranjeiras, dessa vez em definitivo, onde prospera.

Homem culto e versado em humanidades, passa a dar aulas a uma jovem burguesa, regente de cadeira pública na província e que viria a se tornar sua esposa, em 1852: Possidônia Maria de Santa Cruz, dando origem assim ao ramo sergipano dos Braganças. Em janeiro de 1860, o casal recebe a honrosa visita do Imperador Pedro II, que vai a Laranjeiras para conhecer o Colégio Nossa Senhora Santana, cujas mestras principais são, além de sua fundadora, as suas filhas, Maria Vicencia, Mariana Apolinária e Tereza Virgilina.

Francisco Alberto de Bragança, ao lado do também médico José Cândido de Faria, funda o Hospital de Caridade Nosso Senhor do Bonfim, em 1840, que é administrado pela irmandade do Senhor Bom Jesus do Bonfim. Infelizmente, o hospital, por falta de recursos, deixa de funcionar 19 anos depois, em 1859, um ano antes da visita do Imperador. A grande epidemia de cólera morbus de 1855, que dizima quase metade da população de Laranjeiras, atinge mortalmente o médico José Candido Faria. Já o Dr. Francisco Alberto de Bragança morre aos 52 anos, em 30 de outubro de 1868.
Antônio Militão de Bragança, nascido em 1860, vive até os 89 anos de idade, falecendo em 1949. Para formar-se pela Faculdade de Medicina da Bahia, em 15 de dezembro de 1883, defende a tese “Paralisias Consecutivas as Moléstias Agudas”.

Recém formado, segue para o Rio de Janeiro, onde permanece por breve espaço de tempo, recebendo ensinamentos no campo da oftalmologia. Volta para Laranjeiras e monta consultório na rua Direita. No ano seguinte, transfere-se para Pão de Açúcar onde permanece por sete anos, voltando já casado para Laranjeiras em 1892, onde exerce suas atividades com grande competência e dedicação.
Em 1911, violento surto de varíola atinge a cidade e quase a despovoa, tal o número dos que fogem para Aracaju, a este tempo melhorada em seus aspectos sanitários e com maiores recursos de atendimento. Dr. Militão de Bragança escreve e publica relato científico com o título de “A Varíola em Laranjeiras”, trabalho muito rico em detalhes clínicos, epidemiológicos e profiláticos. Uma pandemia de gripe espanhola arrasa Laranjeiras em 1918 com centena de mortes, conforme o registro dos serviços públicos. Militão de Bragança é infatigável nessa luta. Respeitado pela sua dedicação à Medicina, progride de forma mais intensa em função de atividades paralelas de senhor de engenho e criador de gado, tanto em Laranjeiras como nas margens do São Francisco. Progressista e inovador inclui-se entre os primeiros a importar gado indiano e introduzi-lo nos rebanhos sergipanos.
Casado com Dona Maria da Silva Tavares, tem dois filhos, ambos homens. Antonio Tavares de Bragança, farmacêutico-químico e professor e Francisco Tavares de Bragança, sacerdote. Nessa geração, portanto, não há médicos entre os Braganças. Mas a lacuna dura pouco, isso porque Antônio Tavares casa-se com Maria Otávia Plácido Tavares de Bragança e dessa união nasce em 1925, Francisco José Plácido Tavares de Bragança, o “Sobrinho do Jesuíta”, carinhosamente chamado de Bragancinha, o “Chico”, nosso querido professor de Cirurgia, que atualmente reside em Maceió, o nosso aniversariante.

Cirurgião geral com formação em cirurgia do aparelho digestivo, ele atuou também na área de traumatologia atendendo no Pronto-Socorro do Hospital de Cirurgia e no INPS. Foi discípulo de Augusto Leite, Mariano de Andrade e David Rosenberg e, por indicação destes, ingressou no Colégio Brasileiro de Cirurgiões. Professor de Introdução à Cirurgia na Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Sergipe.

Para não quebrar a tradição, seu filho, Ricardo Viana de Bragança, escolhe também a Medicina como profissão, especializando-se em urologia, sendo hoje o Bragança da minha geração. Uma história que não para por aqui, uma vez que Ricardinho, filho dele, é o mais novo discípulo de Hipócrates, cursando o quarto ano da Residência Médica em Urologia.

Com uma história que atravessa três séculos, a Saga dos Braganças é capítulo memorável da nossa história contemporânea e árvore frondosa e bela da Medicina de Sergipe.

Fontes consultadas:
Camerino Bragança de Azevedo - “Dr. Bragança; Esse varão laranjeirense”. Rio de Janeiro, Editora Pongetti – 1971.
Antônio Samarone de Santana - “As Febres de Aracaju – dos miasmas aos micróbios”, Aracaju, 2005
Cônego Philadelfo de Oliveira - “Histórias de Laranjeiras”. Casa Ávila. 2ª Edição – 1981.
Discurso pronunciado pelo Dr. Francisco Alberto Bragança de Azevedo ao ensejo da instalação do Ginásio “Possidônia Bragança, na cidade de Laranjeiras, em 9 de março de 1958.
Alexandre Gomes de Menezes Neto – Trabalho escrito para a Academia Sergipana de Medicina, em 1999.
Texto e imagens reproduzidos do Facebook/Lúcio Prado Dias.

Postagem originária do Facebook/GrupoMTéSERGIPE, de 6 de dezembro de 2015.

domingo, 6 de dezembro de 2015

José Augusto Garcez, precursor da Museologia Sergipana.


Publicado originalmente no site Itabi Infonet (Museus em Sergipe)*

Notícias: José Augusto Garcez, precursor da Museologia Sergipana.

Enviado por Prof. Fábio Figueirôa em 11/12/2010 

No mês de maio, período em que se comemora a Semana de Museus no Brasil, faz-se necessário resgatar fragmentos da história de um homem que contribuiu significativamente para o desenvolvimento e formação do pensamento museológico sergipano.

De acordo com a museóloga Cristina Bruno, “a construção da memória da Museologia é uma tarefa que não pode ser realizada, muitas vezes, sem o estudo biográfico e a análise da produção de seus principais protagonistas” (Bruno & Neves. Museus como agentes de mudança social e desenvolvimento. São Cristóvão: Museu de Arqueologia de Xingó, 2008. p. 23). Esse é o caso da Museologia sergipana, pois a trajetória do colecionador e museólogo José Augusto Garcez, se entrelaça com a história cultural do Estado de Sergipe, principalmente nas décadas de 1940 e 1950 do século XX, onde exerceu uma forte influência para o desenvolvimento dos nossos museus.

Nascido em 1918, na Usina Escurial (São Cristóvão), filho de Silvio Sobral Garcez e Carolina Sobral Garcez, iniciou seus estudos secundários no Colégio Tobias Barreto, concluindo-os no Colégio Maristas, em Salvador. Mais tarde, ainda na Bahia, iniciou o Curso de Direito, que, por motivos de saúde, não chegou a concluir. Foi nesse momento de fragilidade física que, Garcez conheceu o médico Prado Valadares, de quem se tornou amigo e a quem dedicou um interessante texto biográfico, em 1938. Iniciando sua atuação como articulista, aos 20 anos, Garcez passa a contribuir com vários jornais na Bahia, no Rio de Janeiro, em São Paulo e, sobretudo, na imprensa sergipana.

Intelectual atuante e aficionado pelo universo da cultura, José Augusto Garcez fez parte de mais de uma dezena de instituições culturais, dentre elas o Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe (IHGSE), a Sociedade Brasileira de Folclore, a Associação Sergipana e Brasileira de Imprensa. Ingressou na Academia Sergipana de Letras em 15 de novembro de 1972, tornando-se o ocupante da cadeira de número 22. Em 1953, fundou um dos mais importantes movimentos culturais do Estado, o Movimento Cultural de Sergipe, responsável pela edição de dezenas de livros, chegando à década de 1960, com 37 volumes publicados, revelando e destacando grandes nomes da literatura sergipana.

Imbuído do desejo de musealizar as raízes culturais de Sergipe, José Augusto Garcez fundou, em 1948, e manteve com recursos próprios, o “Museu Sergipano de Arte e Tradição”, o qual foi detentor de um grande acervo referente à cultura material de Sergipe, resultado de coletas feitas em suas viagens pelo interior do Estado. A partir de suas ações museológicas, Sergipe passa a se destacar no quadro da museologia nacional, acompanhando o período de efervescência do surgimento dos Museus de Arte Moderna. Nesse sentido, Maria Cecília Lourenço informa que, naquele contexto, “nem todos [os museus] são chamados de Museu de Arte (...). Outros contêm em sua denominação Museu de Arte e Tradição, como os do Estado do Sergipe, sediados em Aracaju (1948) e na cidade de Itaporanga D’Ajuda” (LOURENÇO. Museus Acolhem Moderno. EdUFS, 1999, p.89).

Foi no Museu de Arte e Tradição que o intelectual preservou, pesquisou e comunicou parte do patrimônio salvaguardado. Mesmo funcionando em um espaço inapropriado, o que limitava a expografia e dava um aspecto de grande reserva técnica ou depósito, a instituição cumpriu suas funções museais, conferindo-lhe destaque diante de sua funcionalidade e sendo bastante visitado. Foi nesse cenário que ocorreu um progressivo desenvolvimento das pesquisas e estudos da cultura material sergipana, desdobrando-se em algumas publicações, a exemplo de “Canudos Submersos” (1956), “Holandeses em Sergipe” (no prelo), “O destino da Província” (1954), dentre outros. Sua casa tornou-se um centro irradiador do pensamento museológico sergipano, sendo sua coleção uma chave reveladora para o seu entendimento, através da qual seus estudos construíam, reconstruíam e desconstruíam versões pautadas no processo da pesquisa de documentação museológica.

Como reza o ditado popular, “costume de casa vai à praça”, assim fez o colecionador, extrapolando para além da sua residência, os conhecimentos museológicos. Sabedor do poder do rádio, enquanto instrumento de educação e expansão da cultura, Garcez criou o programa “Panorama Cultural”, em 1949, na antiga Rádio PRJ 6, o qual se caracterizou pela divulgação das atividades de pesquisa desenvolvidas no âmbito do Museu de Arte e Tradição, entre elas poesia, literatura brasileira e sergipana.

Garcez foi o idealizador do Serviço de Pesquisa e Documentação Cultural-Científica, cuja função era resgatar documentos que versavam sobre a história sergipana, criando, também a Biblioteca Popular Tobias Barreto, fatos que atestam as idéias do colecionador em ressaltar os valores culturais de Sergipe.

Atuando em vários planos da Museologia, Garcez foi da prática à teoria com o seu livro “Realidade e Destino dos Museus” (Aracaju: Livraria Regina, 1958), sendo o responsável por uma obra pioneira de análise crítica e comparativa das primeiras instituições museológicas do Estado de Sergipe. Através da sua leitura é possível perceber a sua insurgente atuação em prol da cultura sergipana, sobretudo no campo Museológico, reivindicando melhorias para os nossos museus e, até mesmo, a criação de um museu para a cidade de Aracaju.

Partindo dessa breve análise da atuação de Garcez, podemos concluir que a sua preocupação com a musealização da memória cultural de Sergipe e a sua atuação prática – fazendo do Museu Sergipano de Arte e Tradição o primeiro espaço que efetivamente desenvolveu as funções básicas de uma instituição museal: a preservação, pesquisa e comunicação – torna-o precursor do pensamento museológico sergipano. Em 1976, parte da sua coleção foi vendida para o governo do Estado e passou a compor os acervos do Museu Histórico de Sergipe (São Cristóvão), do Museu Afro-Brasileiro de Sergipe (Laranjeiras) e do Arquivo Público Estadual, em Aracaju.

Em 12 de janeiro de 1992, aos 74 anos, José Augusto Garcez faleceu em Aracaju. Na ocasião, Luiz Antônio Barreto destacou que: “mais do que a foto antiga repleta de mortos, fica a memória, o gesto (...) abençoa[n]do a todos que buscavam na sua casa - mais que uma casa, um refúgio e um museu - o contato e o convívio da intimidade que a cultura sempre fez possível, pela linguagem do mesmo fazer” (José Augusto Garcez, um estranho homem. Revista do IHGSE. N° 31, 1992). Assim, entre os que fazem a Museologia sergipana hoje, resta uma dívida para com Garcez, homem cuja obra pode e deve ser resgatada e discutida.

Texto: Cláudio de Jesus Santos (Acadêmico do curso de Museologia e integrante do Grupo de Estudos e Pesquisas em História das Mulheres da Universidade Federal de Sergipe).

* O site Museus em Sergipe é uma publicação dos alunos do curso de Museologia, realizado como projeto final da disciplina Tópicos Especiais em Educação e Comunicação em Museus, sob a coordenação do Prof. M.Sc. Fábio Figueirôa. E-mail: museusemsergipe@infonet.com.br

Texto reproduzido do site: itabi.infonet.com.br

Foto reproduzida do blog: ensaiosmuseologicos.blogspot.com.br

Publicação originária do Facebook/GrupoMTéSERGIPE, de 01 de dezembro de 2015.

terça-feira, 17 de novembro de 2015

Amigos e familiares se despedem da bailarina Lu Spinelli



Publicado originalmente no site A8SE, em 12/11/2015.

Amigos e familiares se despedem da bailarina Lu Spinelli.

Redação Portal A8

A emoção marcou a despedida da bailarina Lu Spinelli na tarde desta quinta-feira (12), em Aracaju. Centenas de familiares, amigos, alunos e admiradores estiveram no velório que aconteceu no Teatro Tobias Barreto para se despedir da artista. A coreógrafa e professora de ballet foi encontrada morta no seu apartamento, no centro de Aracaju, na noite de quarta-feira (11).

Baiana de nascimento, mas sergipana de coração, Lu chegou em Aracaju há 40 anos e marcou o desenvolvimento da dança no Estado. “Lu foi uma pioneira em nosso Estado, eu acompanho o trabalho dela desde quando ela chegou em Aracaju. Ela era uma fortaleza cultural, lutava pela dança e sempre agiu com seriedade em todos os seus projetos. É uma perca grande de uma mulher que ofereceu sua riqueza cultural para Sergipe”, lamentou a presidente da Fundação Cultural Cidade de Aracaju (Funcaju), Aglaé D’Àvila Fontes.

Apesar da dor da perda, a irmã da bailarina Anair Spinelli abriu o coração para falar sobre a artista. “Acho que Lu escolheu os sergipanos para oferecer o melhor dela, que era sua arte, a sua intensidade e de viver todas as suas escolhas com muita verdade. Lu foi uma pessoa muito forte, algumas vezes polemica, mas sobretudo, muito verdadeira. Hoje ela fez mais uma peraltice, sem avisar, de repente, vira estrela e sem deixar a gente se despedir. Mas, as boas lembranças ficam em nosso coração.

O enterro aconteceu no Cemitério Santa Isabel, no bairro Santo Antônio, em Aracaju.

Texto e imagens reproduzidos do site: a8se.com/sergipe

Postagem originária do Facebook/GrupoMTéSERGIPE, de 13 de novembro de 2015.

O Último Passo de Dança


Publicado originalmente no Facebook/Lilian Rocha, em 12.11.2015.

O Último Passo de Dança.
Por Lilian Rocha.

Ela começou na esquina da rua Boquim com Itabaiana, quase em frente à casa onde eu morava. E foi uma novidade pra Aracaju! Afinal, uma escola de ‘dança moderna’, numa cidadezinha que só conhecia o ballet, tinha que dar o que falar!
Naquele tempo, Aracaju era pequenininha e conhecia todo mundo pelo nome. Até a única escola de ballet que existia – era conhecida pelo nome da sua dona. Era o ‘ballet de Dorinha”, que funcionava na rua Lagarto.
‘Dorinha’ era como carinhosamente chamávamos Auxiliadora, uma das filhas de D. Ildete Teixeira, a confeiteira de bolos mais famosa da cidade. Teve dez filhos, todos muito bonitos.
E foi ali mesmo, nos fundos da casa de sua mãe, que na década de 60, Dorinha Teixeira montou a sua “Academia Sergipana de Ballet”. Muitas crianças fizeram ballet com ela, inclusive eu.

Apesar de criança, lembro-me perfeitamente do salão grande onde tínhamos aula e o fascínio que eu sentia na hora de calçar a meia rosa e amarrar as fitas da sapatilha em volta do tornozelo. Poucos minutos depois, surgia Dorinha, loura e linda, em sua sapatilha de ponta. Parecia uma princesa.
Com Dorinha, aprendi as cinco posições básicas dos braços e dos pés, além de movimentos famosos como ‘plié’, ‘demi-plié’, ‘tendu’ e ‘arabesque’, que depois eu repetia sozinha em casa, fazendo de barra a cabeceira da minha cama, sonhando com o dia em que também usaria uma sapatilha de ponta...
No fim do ano, ela apresentava o festival de ballet no Teatro Atheneu, um verdadeiro espetáculo. Lembro-me, particularmente, de um, chamado “O sonho de Natasha”, uma menina que sonhava que estava numa floresta e se encontrava com dezenas de animais. Coube à Ângela Margarida Torres, a melhor bailarina da época, o papel de Natasha, e a melhor cena, pra mim inesquecível, era o encontro do caçador com o pássaro. Não me lembro quem era o caçador, mas me lembro que o pássaro era Moema Maynard, outra grande bailarina, que roubava os aplausos de todo mundo, quando se debatia, em passos de balé, até tombar no chão, vítima da arma do caçador.

Fui uma das três formiguinhas que Natasha também encontrou naquela floresta encantada e minha participação no palco foi tão breve quanto a minha carreira de bailarina, pois no ano seguinte, Dorinha se casou e como seu marido não queria que ela continuasse ensinando, ela teve que fechar a escolinha e com ela, foram-se todos os meus sonhos...

Foi quando uma certa baiana, chamada Lu Spinelli, desembarcou em Aracaju e virou nossa cidade de cabeça pra baixo...
Chegou sem nada, com o marido e um filho de 4 anos, mas com uma determinação que eu nunca conheci igual. Começou por montar um pequeno estúdio e pôs-se a oferecer ‘dança moderna’. Em vez de sapatilhas, músicas clássicas e passos em francês, o universo de Lu eram malhas coloridas, pés descalços e coreografias inventadas por ela, ao som de músicas que comumente eram tocadas no rádio.

Mas só quando ela se mudou para a Av. Ivo do Prado, foi que nós nos conhecemos. Fui uma de suas muitas alunas e ainda me lembro com detalhes do grande salão onde fazíamos aula.
Além de professora, Lu era uma pessoa muito divertida, de alto astral, que não tinha muita paciência com tristezas. Por isso, eu gostava de ficar um pouco mais ali, depois que a aula terminava, só pra ouvir as histórias que ela contava, às gargalhadas, entre um cigarro e outro. Perto de Lu, tudo era simples e possível, pois ela era a primeira a rir de suas próprias dificuldades.

Em setembro de 1974, Lu resolveu participar do III Festival de Arte de São Cristóvão, um evento grandioso que durava 3 dias e que enchia a cidade de gente. A programação contava com apresentações de música, dança, teatro e oficinas de arte.
E lá fomos nós. Não me lembro quantos éramos nem tampouco quem foram meus companheiros de viagem, mas sou capaz de me lembrar de cada detalhe daquela aventura. Da nossa hospedagem no Convento do Carmo, da água que faltou para o banho, dos ensaios dentro da igreja, dos nossos risos que enchiam de vida aquelas paredes silenciosas e seculares, e finalmente, da nossa apresentação em cima de um palco de madeira improvisado, em plena Praça São Francisco, a mais importante da cidade, sob os olhares atentos de milhares de espectadores, vindos de todos os cantos do país...
De tudo isso me lembrei, quando recebi ontem uma notícia que me tirou o chão. Foi-se Lu Spinelli. Sorrateiramente, do mesmo jeito que chegou aqui. Sem lenço, sem documento. Veio só com a sua dança. E com ela, conseguiu voar tão alto que se tornou uma das dançarinas mais conceituadas dessa terra que a acolheu e que ela chamava de sua.
Foi-se Lu. Bruscamente. Sem lenço, sem documento. Sem nos dar tempo para despedidas.
Foi-se só com a sua dança. E com um único salto, virou uma estrela...
(Lilian Rocha - 12.11.15).

Texto e imagem reproduzidos do Facebook/Lilian Rocha.

Postagem originária do Facebook/GrupoMTéSERGIPE, de 12 de novembro de 2015.

Lú Spinelli e a dança cênica em Sergipe...


Publicado originalmente no Facebook/Mário Resende, em 09/03/2012.

Lú Spinelli e a dança cênica em Sergipe: 40 Anos de Movimento e Poesia.

Profº MSc. Mário Resende (Professor do Núcleo de Dança).

A prática de homenagear é tão antiga quanto à existência da cultura humana. Ela pressupõe o reconhecer no outro a construção pioneira, a abertura de caminhos, a facilitação de constituição de estradas e pontes sem as quais estaríamos caminhando com mais vagar. Reconhecer no outro a construção de algo digno é ato de grandeza cultural que humaniza o homem.

Ao tratarmos de reconhecimento é que relembramos que há quatro décadas, tivemos em Aracaju o I Festival de Dança Moderna, Contemporânea e Afro. Os tempos eram difíceis, a cidade pequena e conservadora. Estávamos no auge do regime militar e a dança acadêmica não tinha espaço, nem patrocínio, tampouco público. Nessa época, a SCAS – Sociedade de Cultura Artística de Sergipe – entidade cultural que atuava em Aracaju já tinha entrado em retração. A SCAS em anos anteriores tinha sido patronesse de espetáculos de música e de teatro. No tocante aos grandes espetáculos de Dança que trouxe para a cidade, na maioria das vezes, estes se restringiram à linguagem do balé clássico. Nesse deserto de movimento, Lúcia Spinelli percebeu uma lacuna a ser preenchida e por aqui fincou suas raízes, através do Studium Danças.

Somente a partir do trabalho da professora Lúcia Spinelli é que as sementes das Danças Moderna e Contemporânea aportaram na capital sergipana. Sem essas sementes muito provavelmente estaríamos contando outras histórias no que se refere à Dança acadêmica em Sergipe. A criação do Studium Danças e a realização dos Festivais Anuais são marco na história cultural de Aracaju. Sua criadora, Lú Spinelli, vivenciou e foi testemunha de importantes modificações nessa capital no campo dos costumes, dos mitos e dos preconceitos. Na década de 70, ao se estabelecer em Aracaju, enfrentou resistências típicas de toda ação pioneira, mas também recebeu os apoios das jovens mentes e intelectuais iluminados da cidade, a exemplo de João de Barros, Joubert Morais, Jorge Lins, Irineu Fontes, o então poeta Carlos Ayres de Brito, Ilma Fontes, o musicista Antonio Alvino Argolo, Lânia Duarte, Aglaé Fontes, Madre Albertina Brasil, Amaral Cavalcanti, Professor Alencarzinho, Professor João Costa, Luís Eduardo Costa, Luís Eduardo Oliva, Ivan Valença, Professor Antônio Garcia e Dr. João Cardoso Nascimento Junior, ex-reitores da Universidade Federal de Sergipe, entre outras pessoas de real importância.

De fora de Sergipe, Lú conta que sempre teve o apoio e o incentivo de Eduardo Cabús, dono do Teatro Gamboa e atual proprietário do Teatro Bibi Ferreira, no Rio de Janeiro, do professor Clyde Morgan, convidado da UFBA para atuar no curso de Dança, e atualmente docente da Universidade de Backport, New York e Julio Vilan, assistente de Klauss Vianna e Angel Vianna, do prof. Rolf Gelewsky de Reneè Gumiel, pioneiros da dança moderna e contemporânea no Brasil. Dulce Aquino, Pró-Reitora de Extensão da UFBA, Lia Robato, Diretora do Projeto Axé/Salvador, Laís Gois, ex-diretora da Escola de Dança da UFBA e Jurema Penna, autora e atriz baiana, expoente do Cinema Novo na Bahia, grupo que atuou o grande Glauber Rocha, também fizeram parte de rol de apoiadores.

Em muitos aspectos do que avançamos, somos devedores a essa mestra da Dança. No campo dos costumes e da dança Lú foi revolucionária, sendo uma das responsáveis pela quebra de preconceitos e tabus arraigados na sociedade aracajuana. Atuou como uma das responsáveis técnicas pelo Festival de Arte de São Cristóvão durante 18 anos. Foi também produtora de grandes espetáculos que se fizeram presentes nos palcos sergipanos. Com Lú Spinelli tivemos pela primeira vez em Sergipe, a possibilidade de artistas homens e negros frequentarem aulas e serem reconhecidos na cena da dança no estado de Sergipe e fora dele. Lú fundou o Studium Danças em 1971, tendo como primeiro professor convidado o bailarino pernambucano Alcides Muniz, recém chegado da Europa. Muniz havia dançado em diversas companhias como o Gulbenkian em Portugal, o Balé de Nice, na França, entre outros. Antes de ir para a Europa, Muniz tinha atuado no Brasil, em particular, trabalhou com Dalal Aschar, no Rio de Janeiro e com Flávia Barros, em Pernambuco. Também trabalharam no Studium o, hoje, professor Doutor Eusébio Lobo, da UNICAMP (ministrou aulas no Studium nos anos 70); Marcelo Moacyr, dançarino que atuou em diversas companhias internacionais, formado pelo Laban Center Londres, Antonio Alcântara/UFBA que trabalha com Danças no Canadá e Firmino Pitanga, com formação na UFBA, coreógrafo, dançarino, pesquisador de danças africanas em diversos países daÁfrica e fundador do balé da UMES, na USP.

Por sua vez, em Sergipe surgiram do Studium Danças o saudoso Francisco Santos, popular Chiquinho, por muitos anos professor de Dança na escola Municipal de Artes de Aracaju, os dançarinos Marcos Braz-Erê, Rita Trindade, Gladston Santos, Rinaldo Machado, Jayme Guedes, Hamilton Marques, Julieta Menezes, Sandra Freire, Clara Alice Oliveira, Ivani Andrade, dentre outros.

A partir das ações de Lú que tivemos a primeira companhia de dança cênica sergipana, o “Grupo Studium Danças”. Criado em 1973, era um grupo amador formado por uma série de jovens aracajuanos que posteriormente procuraram outros meios, todos alunos da escola, a saber: Silvana Flores Cardoso, Beatriz Braz, Cristina Garcia, Clara Alice e Acácia Oliveira, Martinha Bragança, Dayse Monte, Ana e Cibele Ramalho entre outras alunas. O grupo viajou para diversos eventos no Brasil, participando de circuitos e de festivais universitários. Em Sergipe, por diversas vezes, abriu os espetáculos que aconteciam no Festival de Artes de São Cristóvão.

O primeiro espetáculo do grupo amador chamou-se Afro Sacro e foi apresentado pelo grupo Studium Danças na Igreja do Rosário, em São Cristovão. Posteriormente, no primeiro Festival de Artes e Cultura de Laranjeiras, o espetáculo foi reapresentado na integra, e lá novamente dançaram sob o som da Missa Luba, cantado por “os trovadores do Rei Balduim” um coral católico do Congo Belga. Lú montou diversos outros espetáculos, a exemplo da “Feira dos Aracajus”, “Glória, Glória, Glorioso”, “Vivência”, “Xocós”, todos pautados na cultura sergipana, dentro de uma visão contemporânea de dança.

Nos anos 80, o Grupo Studium Danças transformou-se em Sociedade Produtora de Dança, em caráter profissional. Nessa época, o grupo se fez presente pelo país no Festival Internacional das Mulheres Ruth Escobar, em São Paulo, no Ciclo de Dança do Recife e na Oficina Nacional de Dança da UFBA, entre outros grandes e importantes de eventos brasileiros. Fez diversas turnês em diversos estados do Nordeste. O grupo profissional teve sempre a direção de Lú, mas atuou em parceria com importantes coreógrafos brasileiros e estrangeiros, a exemplo de Marcelo Moacyr, Denilto Gomes, Airto Tenório, Clady Morgan, Valério Césio, Rosito de Carmine, entre outros.

Em quarenta anos de atuação em Sergipe, Lú Spinelli plantou e colheu muitos frutos na arte da Dança e fez desta, nos seus espetáculos, a palavra que não podia falar, o espaço para a crítica e para o riso, a luz para produzir beleza e poesia, o movimento para celebrar a vida e dialogar com a dor, a arte que somente o corpo é capaz de transmitir nesse campo do saber humano que deve ser o mais democrático de todas as artes. A existência e a continuidade da escola de dança Studium Danças, em quase meio século, chancelam o compromisso, a lealdade e competência dessa profissional em manter acesa a chama da arte do movimento no estado de Sergipe. No mínimo, esse fato nos delega o papel de reconhecer e homenagear Lú Spinelli, artista que através da dança, soube tão bem interpretar e expor aqui e no Brasil, a grandeza e a beleza da cores e sabores da cultura sergipana.

Texto e imagem reproduzidos do Facebook/Mario Resende.

Postagem originária do Facebook/GrupoMTéSERGIPE, de 12 de novembro de 2015.

Lu Spinelli a pioneira da dança contemporânea em SE.



Publicado originalmente no blog Jornal de Sergipe, em agosto/2013.

Edição especial: Lu Spinelli a pioneira da dança contemporânea em SE.
Por Rodrigo Alves.

Em meio ao mercado de trabalho, imperam as profissões mais convencionais, porém, o que seria da história de um povo sem os operários da arte? É na classe empregatícia de coreógrafa que Lu Spinelli se enquadra. Baiana radicada em Aracaju, tornou-se pioneira na introdução da dança moderna e contemporânea em Sergipe há 43 anos, e ainda permanece na ativa com a escola Studium Danças e a realização de festivais anuais.

Regina Lúcia Matos Spinelli começou aos quatro anos no teatro infantil em Salvador, cidade onde nasceu, interpretando a personagem Emília, da obra do Sítio do Picapau Amarelo, de Monteiro Lobato, pela qual recebeu um prêmio da própria filha do autor. Mas logo percebeu que as artes cênicas não lhe completavam. Ao seis anos, começou a fazer escola de dança na Universidade Federal da Bahia, na época dirigida pelo primeiro reitor negro, Edgar Santos,que trouxe alemães para montar uma escola livre de dança, teatro e belas artes, em extensão à comunidade. Nesta fase, Lucia obteve um rico aprendizado com grandes nomes da dança, como Claus Viana, Rolf Gelewski, Lia Robato, Dulce Aquino, entre outros.

Inquieta, Spinelli passava férias fazendo cursos de verão referentes à sua área, no Rio de Janeiro e em São Paulo. Anos mais tarde, estudou expressionismo alemão em Essen, na Alemanha. A modalidade dança contemporânea foi a que mais lhe chamou a atenção, e a bailarina passou a estudar o tema profundamente em São Paulo com Renée Gumiel, uma francesa considerada a precursora da dança moderna no Brasil.

Através do primo Júlio Vilan, a bailarina teve a oportunidade de conhecer renomados coreógrafos como JC Violla e Ivaldo Bertazzo. Passoua trabalhar no Ballet Stagium, na capital paulista, sendo empresária para a região Nordeste durante 20 anos. Como Aracaju ainda não tinha uma escola com foco nestas modalidades da dança, Lucia resolveu montar o Studium Danças e trouxe muitos amigos de lugares por onde passou para ajudar a compor o projeto.

“Surgiu em 1971, cumpriu seu papel como escola, formando pessoal e colocando no mercado mesmo que restrito. Intercambiou ações culturais, cursos, espetáculos com outros estados e países, esteve presente em todos os eventos de relevância no país. Fundou um grupo amador que depois oficializou-se para profissional o qual representou Sergipe a convite de vários eventos, também faz excursões por algumas capitais. Estamos atuando há 43 anos mostrando o trabalho de diversos profissionais que lá trabalham. Além de realizar espetáculos anuais dirigidos ao publico infantil, juvenil e adulto, que aconteceram de forma ininterrupta durante todos estes anos. Fomentamos a arte da dança em nosso estado, com melhoria de qualidade de trabalho a cada ano conseguindo conquistar um lugar de destaque e seriedade não só em Sergipe, mas no Brasil, com a tranquilidade de um dever cumprido”, afirmou Lu Spinelli sobre o Studium Danças.

Quando perguntada sobre as dificuldades da profissão, a bailarina relata que adificuldade maior é o mercado restrito. Conta ainda que, em relação às companhias e grupos profissionais, as chances são muito poucas e a remuneração é muito pequena para as necessidades de alimentação, saúde, pagamento de coreógrafos e ensaiadores. Exceto nas grandes capitais onde há maiores oportunidades.

A profissionalização em meio à dança.

Sobre seu trabalho de formação de novos bailarinos, a coreógrafa faz críticas ao espaço para o gênero artístico em Sergipe. “Não coloco bailarino pronto no mercado, porque aqui não tem produto pronto. Aqui tem talentos trabalhados a serem muito mais trabalhados. Porque Sergipe não tem mercado profissional. Pessoas extremamente talentosas ficam na base do amadorismo”. Já sobre os alunos, Lu reflete sobre a conduta. “Quem não faz quatro, cinco horas de aula por dia, não pode dizer que é bailarino profissional”. Vários alunos já saíram do Studium para outras instituições brasileiras, como a conceituada Escola Estadual de Dança Maria Olenewa, no Rio de Janeiro.

Atualmente a professora cultiva uma paixão, a dança afro. Apesar de ser brasileira, o interesse começou nos Estados Unidos. “O afro brasileiro é muito bonito, mas ele fica restrito a dança de orixás, basicamente ao folclore. Já o afro americano mistura blues, soul, clássico moderno, que é uma coisa muito qualificada, estudo muito sobre este universo”, explica Lu Spinelli. Ela participa também dos principais eventos de dança do país, como convidada, onde ministra aulas como analista e curadora. Outro recente destaque do seu curriculum é a escrita de críticas sobre eventos e grupos de dança Brasil a fora. Para os próximos projetos, a função de analista é a mais requisitada, já há convites fechados para 2014.

Ao fundar sua escola e lutar para abrir o mercado no estado, apesar da bagagem de conhecimentos práticos e teóricos, é visível a defasagem da valorização do profissional de dança. As dificuldades só refletem os problemas que Sergipe tem que enfrentar, para oferecer um campo mais sólido para o operariado desta e de outras artes que enfrentam problemas da mesma linhagem. Enquanto isso não acontece, vale seguir exemplos de perseverança como o de Lu Spinelli.

Texto e imagens reproduzidos do blog: jornaldesergipe.blogspot.com.br

Postagem originária do Facebook;GrupoMTéSERGIPE, 12 de novembro de 2015.

Entrevista: Lú Spinelli e sua vida dedicada à dança em Sergipe



Fotos: Fabiana Costa/Secult.

Publicado originalmente no site Conselho de Cultura SE, em 14/01/2013.

Entrevista: Lú Spinelli e sua vida dedicada à dança em Sergipe

Por Glauco Vinícius, em 17/08/2012

Aos cinco anos de idade ela já afastava as cadeiras da sala da casa onde morava em Salvador, na década de 50, e reunia a irmã Nairzinha e as coleguinhas da vizinhança para se divertir. A brincadeira era quase sempre a mesma: dançar. Ali, diante dos olhos das amigas (e freqüentemente da mãe) a menina se movimentava com graça, criava coreografias, e descobria os limites do próprio corpo.

Hoje, aos 61 anos (40 deles vividos em Sergipe), Lú Spinelli se orgulha de ter escrito seu nome na história da dança sergipana e brasileira. Com coragem e paixão pelo que faz, construiu a Studium Danças (mais tradicional escola de dança de Aracaju), criou o primeiro grupo profissional do Estado, integra o Conselho Brasileiro de Dança, o Conselho Estadual de Cuiltura, e constantemente é convidada para comentar, analisar e compor júri nos principais festivais do país.

Na entrevista abaixo, a premiada bailarina e coreógrafa de Sergipe compartilha algumas informações sobre sua carreira, relembra episódios marcantes para a dança no Estado, e diz que, apesar da extensa lista de realizações, ainda tem muitos sonhos profissionais a realizar.

Sergipe Cultural – Quem ou o quê te influenciou a mergulhar no universo da dança?

Lú Spinelli – Cresci numa família que tinha forte relação com a arte. Meu pai e meu avô eram instrumentistas, e isso, claro, foi um grande estímulo. Mas, além disso, tem a paixão pela dança que já nasceu dentro de mim. Quando eu era criança, a maior diversão era afastar as cadeiras na sala de casa e criar coreografias. Atenta a essa disposição que eu tinha para a dança, minha mãe, que apesar da formação em Ciências Contábeis era muito ligada às atividades artísticas, me matriculou em uma escola de dança. Daí as coisas foram acontecendo naturalmente.

Sergipe Cultural – Então você não enfrentou nenhum tipo de resistência familiar quando decidiu seguir carreira nessa área?

Lú Spinelli – Enfrentei sim. Apesar de todo esse histórico de ligação com as artes, meu pai era muito receoso de que eu não tivesse como me sustentar através dessa atividade. Então entrei para o curso de Secretariado Executivo, aprendi o ofício e peguei meu diploma. Essa formação foi muito importante para a minha vida, pois fui assessora especial da Secretaria de Estado da Cultura e diretora do Teatro Atheneu por muito tempo, e todas as lições aprendidas no curso foram essenciais para o desenvolvimento de um bom trabalho enquanto profissional do serviço público e produtora cultural.

Sergipe Cultural – Nessas quatro décadas de trabalho, você elege algum momento específico como o mais significativo para a dança em Sergipe?

Lú Spinelli – Sem dúvidas a realização do Festival de Arte de São Cristóvão, do qual fui coordenadora por 18 anos. Na época, trouxemos tudo o que havia de melhor no Brasil no que se refere à dança: balé da Cidade de São Paulo, Corpo de baile do Teatro Municipal do Rio de Janeiro, Stagium, etc. A Studium também marcava presença e acabou fomentando a cena da dança no Estado, pois estimulou o surgimento de novos grupos. Outro ponto que merece destaque foi a criação do primeiro grupo profissional de dança de Sergipe. Foi quando os artistas começaram a aprender a ganhar dinheiro com arte.

Sergipe Cultural – Para Lú Spinelli, o que é dança?

Lú Spinelli - A dança está presente na minha vida de uma forma muito poética. É assim que eu sempre a vi. É uma arte livre, mãe de todas as outras, pois o corpo tem o poder de expressar uma história contada pela literatura, dramatizar um clássico do teatro, ou dançar sem nenhum contexto por trás, a dança pela dança, que é a mais importante. Nós esculpimos corpos em movimento.

(Por Glauco Vinícius, da Ascom/Secult).

Fotos e texto reproduzidos do blog: conselhodeculturase.blogspot.com.br

Postagem originária do Facebook/GrupoMTéSERGIPE, de 12 de novembro de 2015.

Bailarina e coreógrafa Lu Spinelli incentivou a arte em Sergipe

Foto: Fabiana Costa/Divulgação.

Publicado originalmente no site G1 SE, em 12/11/2015.

Bailarina e coreógrafa Lu Spinelli incentivou a arte em Sergipe.

O corpo da bailarina e coreógrafa Lu Spinelli está sendo preparado para o velório que acontecerá nesta quinta-feira (12), a partir das 10h, no Teatro Tobias Barreto em Aracaju. Ela foi encontrada morta no apartamento onde vivia na noite de ontem. A causa diagnosticada foi morte súbita por infarto. O sepultamento será no Cemitério Santa Isabel às 16 horas.

Durante décadas de dedicação as artes, Lu Spinelli comandou a escola de dança Studium Danças. Ela também foi integrante do Conselho Estadual de Cultura e conselheira e delegada Conselho Brasileiro de Dança (CBDD).

A coreógrafa recebeu Medalha de Honra ao Mérito Artístico concedida pelo CBDD, vinculado a Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco). A homenagem foi concedida à artista em reconhecimento pelo trabalho de divulgação da dança que ela vinha executando ao longo de sua carreira. Leia abaixo a nota de pesar emitida pela Prefeitura de Aracaju:

“É com imenso pesar que a Prefeitura de Aracaju, em nome do prefeito João Alves Filho, da presidente da Fundação Cultural Cidade de Aracaju, Aglaé D’Àvila Fontes, e da secretária em exercício da Família e Assistência Social, Selma Mesquita, lamentam o falecimento da amiga, professora e coreógrafa, Lú Spinelli, que por cerca de 60 anos dedicou sua vida a dança em Aracaju. Lú Spinelli, que chegou em Sergipe em 1971, nos agraciou com seu modo inovador na arte de interpretar a dança moderna e contemporânea. Tia Lú, como era carinhosamente chamada pelos alunos foi a responsável pela formação de dezenas de mestres exportando talentos para diversos estados brasileiros e inclusive locais fora do país”.

Texto e imagem reproduzidos do site: g1.globo.com/se/sergipe

Postagem originário do Facebook/GrupoMTéSERGIPE, de 12 de novembro de 2015.

Morre em Aracaju a bailarina Lú Spinelli

Lú Spinelli: a eterna bailarina.
Crédito - Arquivo Portal Infonet.

Infonet > Cultura > Noticias > 12/11/2015.

Morre em Aracaju a bailarina Lú Spinelli.

Corpo será velado no Teatro Tobias Barreto nesta quinta-feira.

Por Cássia Santana.

Morreu na noite desta quarta-feira, 11, em casa a bailarina e professora de dança moderna Lú Spinelli, 64, que estava dedicada à realização de mais um sonho: ministrar um aulão aberto a toda comunidade para comemorar os 65 anos de vida, que seriam completados no próximo dia 25. Dedicada, Lú Spinelli nunca faltou aos compromissos que assumia e foi esta característica que induziu o grupo de alunos a procurá-la na residência na noite da quarta, 11, onde a bailarina foi encontrada morta. "Acreditamos que ela deitou após o almoço e faleceu", revela o ator Lindolfo Amaral, amigo pessoal da bailarina.

De acordo com informações do ator, Lú Spinelli respirava felicidade nas últimas semanas, dedicada a um espetáculo que estava ensaiando com um grupo de alunos para a apresentação na próxima semana no Teatro Tobias Barreto, compondo as atividades de final de ano da Academia Célia Duarte. "Ela é a eterna bailarina, que conviveu jamais vai esquecê-la como bailarina", comenta Lindolfo. "Uma pessoa muito dedicada, de uma inteligência ímpar que sabia tudo sobre a dança", conceitua o ator.

Na quarta-feira, 11, ela ministraria aulas para este grupo de alunos, mas desapareceu. Os alunos telefonaram, mas a bailarina não atendeu às ligações. Conhecendo a personalidade da professora, os alunos decidiram ir até a residência dela, chamaram e, motivados pelo silêncio, o grupo decidiu arrombar a porta. E, no quarto, ela estava deitada. “O ventilador ligado e era como ela estivesse dormindo”, conta Lindolfo Amaral, que seguiu para a casa de Lú Spinelli assim que recebeu o telefonema dos alunos.

Amigo pessoal, confidente da bailarina, o ator Lindolfo Amaral passou momentos agradáveis com a bailarina na última terça-feira, 10. “Saímos, fui até a casa dela e conversamos muito dentro do carro na porta. Ela estava superbem, muito feliz. Dizia que queria comemorar o aniversário dançando e já estava com um projeto de promover um aulão aberto para quem quisesse para festejar”, conta Lindolfo.

Há suspeita que a bailarina tenha sido vítima de infarto fulminante, mas os amigos e a família ainda aguardam o resultado dos exames que estão sendo realizados pelo Serviço de Verificação de Óbito (SVO). Spinelli deixa dois filhos. Um deles, Amanda Spinelli, mora em Miame, nos Estados Unidos, mas está no México. Já foi informada sobre a morte da mãe e está tentando chegar ao Brasil, mas encontra dificuldades para encontrar voos disponíveis.

Assim que liberado do SVO, o corpo de Lú Spinelli será velado no Teatro Tobias Barreto e o horário do sepultamento está dependendo do retorno da filha dela ao Brasil.

Texto e imagem reproduzidos do site: infonet.com.br/cultura

* Confira uma das últimas entrevistas para o Portal Infonet

Postagem originária do Facebook/GrupoMTéSERGIPE, de 12 de novembro de 2015.

Tributo a Lu Spinelli





Publicado originalmente no Facebook/Lúcio Prado Dias.

Ano passado terminou um ciclo, o do Studium Danças, agora, o que fica?

Tributo a Lu Spinelli.
Por Lúcio Prado Dias.

Escrevi o texto ano passado, quando a coreógrafa e dançarina Lu Spineli anunciou o fim do Studium Danças. Agora, um ano depois, estupefato, recebo a notícia de sua morte. O que me pareceu sensato naquele momento, refletir sobre a noticia inesperada me impulsiona a republicá-lo, sob o impacto da comoção da perda.

Sergipe, pelas suas artes, deve muito a Lu Spinelli, pelo pioneirismo e pela coragem de enfrentar, na década de 70, uma sociedade extremamente preconceituosa. Naquela época, Aracaju era uma província desprovida de cultura e arte, poucas pessoas, na vanguarda dos acontecimentos, ousavam inovar, quebrar tabus. Ela não só inovou como revolucionou o ensino da dança em nossa cidade, enfrentando toda sorte de dificuldades, sem perder a disposição, a coragem, a garra e a determinação, para fazer o que sempre acreditou: uma dança contemporânea sintonizada com as grandes companhias de dança do país.

Tempos difíceis, matrículas escassas, a sociedade não via com bons olhos colocar suas jovens filhas na Academia de Lu! Moramos vizinhos por muito tempo na Rua da Frente ( Ivo do Prado ) e convivemos momentos marcantes da sua escola e de sua vida pessoal. As inconstâncias de João Marcos, seu esposo, porque não dizer do casal, a participação nos festivais de Dança Contemporânea e no inesquecível Festival de Arte de São Cristóvão, em várias edições.

E esse meu interesse não era por acaso, afinal as moças mais bonitas e charmosas da cidade eram suas alunas, uma delas, Cristina, viria mais tarde a ser minha esposa. E a saga continuou com Marcela, minha filha, que desde pequenina, com 5 anos, já era sua aluna e ainda hoje, passados tantos anos, continua fazendo parte do seu staff.

Lembro-me de um episódio, eu estudante de Medicina, auxiliando a Academia nos cuidados de saúde da turma que se apresentaria numa das edições do FASC e o principal bailarino, Edmilson Barreto, tivera uma entorse de tornozelo na véspera da apresentação. Valendo-me dos conhecimentos, não hesitei em lhe aplicar uma infiltração medicamentosa na região afetada, comum a época, o que lhe deu condições de dançar naquele momento.

Sim, Lu Spinelli se foi, mas todos nós continuaremos sendo os seus alunos. Com ela aprendemos lições de coragem, fibra e tenacidade. Recordo muito bem da sua luta para termos um teatro de verdade, com estrutura adequada para a dança. O único da cidade, o Atheneu, passou anos pra ser reformado e não havia mais espaços adequados para apresentação dos festivais. Foi uma luta intensa, árdua, demorada, agravada pela insensibilidade dos governantes. Palcos, cenários e sons tiveram de ser improvisados, mas Lu, em momento algum claudicou. Ao contrário! No Conselho Estadual de Cultura, era voz firme, às vezes contundente, na defesa da arte da dança. Seu jeito afirmativo de ser, muitas vezes não era bem compreendido e por outras, fortemente contestado. Assim era Lu!

Ano passado terminou um ciclo, o do Studium Danças, hoje ela se vai mas seu brilho permanecerá sempre muito forte entre nós.

Lu Spinelli será sempre uma vencedora! Descanse em paz!

Texto e imagens reproduzidos do Facebook/Lucio Prado Dias.

Postagem originária do Facebook/GrupoMTéSERGIPE, de 12 de novembro de 2015.

Lú Spinelli nos deixa de repente...

 

Publicado originalmente no Facebook/Eliane Porto, em 11/11/15.

"Lú Spinelli nos deixa de repente como de repente, um dia, chegou nas terras de Aracaju para transformar a dança em nosso estado! Vá em paz linda bailarina, brilhar e dançar em outras esferas". (EP).

Texto e imagem reproduzidos do Facebook/Eliane Porto.

Postagem originária do Facebook/GrupoMTéSERGIPE, de 12 de novembro de 2015.

Lu Spinelli é encontrada morta


Publicado originalmente no site Madalena Sá, em 11/11/15.

Lu Spinelli é encontrada morta

Foi encontrada morta na noite de hoje, em seu apartamento, a professora e fundadora do Studium Danças, Lu Spinelli.

A coreógrafa chegou em Aracaju nos anos 70. Na bagagem, a arte e a paixão pela Dança Contemporânea.

Lu encerrou as atividades da sua escola, em dezembro do ano passado. Em seguida, alugou o espaço para a Universidade Federal de Sergipe - que passou a funcionar como núcleo do curso Licenciarura em Dança.

Ela iria dar uma aula na Academia de Célia Duarte. Como não chegava, as alunas resolveram ir ao seu apartamento. Precisaram arrombar a porta. Era tarde demais, já a encontraram morta na cama.
Regina Lúcia Spinelli deixa dois filhos: Amália Spinelli, radicada nos USA, e Kiko Spinelli, pai de seus netos.

Texto e imagem reproduzidos do site: madalenasa.com.br

Postagem originária do Facebook/GrupoMTéSERGIPE, de 12 de novembro de 2015.

segunda-feira, 9 de novembro de 2015

Homenagem a Leonardo Fontes de Alencar


"Minha homenagem a Leonardo Fontes de Alencar,
grande em talento e decência". (Antônio Samarone).

"Nasceu no dia 7 de abril de 1940, em Estância, Sergipe, filho de Eurydice Fontes de Alencar e Clodoaldo de Alencar. Seu interesse por artes plásticas vem desde sua infância, quando lia histórias em quadrinhos. No entanto, passou a dedicar-se à pintura quando tomou contato com o trabalho de outros artistas sergipanos, como J. Inácio, Álvaro dos Santos e Florival dos Santos, estimulado pelo professor Jordão de Oliveira."

Texto do site: http://leonardoalencar.com.br/sobre/

Post reproduzido do Facebook/Antonio Samarone Samarone.

Postagem originária do Facebook/GrupoMTéSERGIPE, de 6 de novembro de 2015.

quarta-feira, 4 de novembro de 2015

Entrevista - José Carlos Mendonça (Pinga)




Publicado originalmente no site do Jornal da Cidade.Net, em 05/10/2015.

Entrevista - José Carlos Mendonça (Pinga).
“Eu produzi mais de 300 shows em Sergipe”.

Por: Eugênio Nascimento/Equipe JC.

Sergipano de Propriá, o empresário José Carlos Mendonça, mais conhecido como “Pinga”, durante muitos anos foi o responsável pelos grandes shows realizados em seu Estado natal, especialmente em Aracaju, cidade para a qual trouxe os nomes mais representativos da Jovem Guarda (a turma do iê, iê, iê), inclusive o “Rei” Roberto Carlos, com quem mantém até os dias de hoje uma relação de amizade. A carreira de produtor de eventos do show business começou na década de 1960 e hoje, aos 75 anos,ele pensa em ir parando lentamente, depois de 49 anos de carreira e 15 mil shows em todo o Brasil, 300 dos quais em Sergipe, através da sua Pinga Produções Artísticas, com artistas como Roberto Carlos, Ney Mato Grosso, Maria Bethânia, Caetano Veloso, Elba Ramalho. Nos últimos anos ele estava morando em Recife e agora, pouco a pouco, está se transferindo para a Bahia, onde tem residência na praia do Forte. Em entrevista ao Jornal da Cidade, ele faz um breve balanço de sua carreira e fala do seu amor pelo Clube Esportivo Sergipe.

A seguir, os principais trechos da entrevista.

JORNAL DA CIDADE - Como e quando teve início a sua carreira de promotor de shows?

José Carlos Mendonça – Eu entrei no mercado de trabalho inicialmente pelo ramo de produtos farmacêuticos. Somente ingressei no segmento de show business em 1966 quando me empolguei com a Jovem Guarda. Hoje, estou perto de completar 50 anos nesse ramo e quase 15 mil eventos realizados dos quais 285 com Roberto Carlos. Meu ingresso foi entusiasmado por um show de Wanderley Cardoso e Rosemary, em Aracaju. Foi ali que decidi: eu vou contratar um artista para fazer uma apresentação, mas tem que ser algo que supere isso. Para fazer isso, só com Roberto Carlos. Foi meu primeiro show.

JC - E como conseguiu entrar no ramo? Foi muito difícil?

JCM – Apareceu um mexicano que estava levando Roberto Carlos para uma apresentação na TV Jornal do Comércio, no Recife (PE), e passou por Aracaju para me oferecer o show dele. Na época eu tinha programa de disc-jóquei,que, sem modéstia, tinha uma boa audiência. Quando ele estava saindo do aeroporto de Aracaju para a cidade, fez o percurso em um táxi que estava sintonizado no meu programa. Ele pediu para que o taxista o levasse até a emissora para falar comigo e me ofereceu show. Eu, sem experiência nenhuma, já aceitei pelo preço que ele pediu. Tive prejuízo, mas continuei.

JC - E a sua carreira teve continuidade em Aracaju?

JCM – Sim. Até 1972, a minha carreira se resumia a Sergipe, bem mais a Aracaju. Em 2 de março de 1972 promovi o meu primeiro show fora de Sergipe, em Fortaleza (CE), A partir daí, comecei a sair para outros estados.Hoje eu posso afirmar que em todos os estados do Brasil tem shows assinados por Pinga Produções Artísticas. Com Roberto Carlos, só há seis capitais do Brasil que eu não fiz: Porto Alegre, Florianópolis, Curitiba, São Paulo, Palmas e Boa Vista. Mas com outros artistas, eu fiz no Brasil inteiro. Conheço o Brasil com a palma da mão. Hoje eu tenho viajado menos porque são 48 anos que eu completei nessa profissão com pouco mais de 15 mil shows.

JC - Quantos shows o senhor promoveu em sua carreira em Sergipe?

JCM – Eu produzi mais de 300 shows em Sergipe com artistas como Roberto Carlos, Renato e seus Blue Caps, The Fivers, Wanderley Cardoso, Nilton César, Jerry Adriane, Clara Nunes, Júlio inglesas, Ney Matogrosso, Caetano Veloso, Carmen Silva e Alcione, entre outros

JC - Quantos shows de Roberto Carlos em Aracaju e em quais espaços?

JCM – Um no Charles Moritiz (Ginásio do Sesc da D. José Thomaz com Senador Rollemberg), 1 no antigo estádio de Aracaju (no seu lugar foi construído o Estádio Estadual Lourival Baptista, (hoje Arena Batistão) 2 já no Batistão e 15 no Constâncio Vieira, totalizando 19.

JC - Em que período ocorreram esses shows?

JCM – Lembro bem que foram dois nos anos de 1960, quatro nos anos de 1970, cinco nos anos de 1980, cinco anos 1990 e três a partir do ano 2000 até agora. 0 total por meu intermédio, volto a repetir, soma 19 shows.

JC - Mesmo um tanto ausente de seu Estado natal, o senhor continua sendo torcedor do Sergipe?

JCM – Claro que meu sangue é vermelho - é Náutico, em Pernambuco,é Vasco, que tem a Cruz de Malta, no Rio de Janeiro, e é Clube Esportivo Sergipe, em meu Estado natal. Nunca esqueci ou deixei de lado os clubes que eu gosto e por eles torço.

JC - Qual o motivo do apelido Pinga? O senhor gostava ou gosta de uma cachacinha?

JCM – Não tem nada a ver com bebida. Eu nunca bebi nada. Nunca fumei. Como tenho bom gosto e sou vascaíno, quando eu estudava no Colégio Salesiano, em Aracaju, um padre me colocou esse apelido porque existia um Pinga no Vasco da Gama. às vezes quando me chamam de José Carlos, eu já não percebo que é comigo. Parece que Pinga é o meu nome.

JC - Porque você foi morar no Recife?

JCM – Eu sempre digo que sou sergipano, porque nasci em Propriá, em Sergipe, mas tenho titulo de cidadão recifense e estou um tanto distante de minha terra ultimamente. A primeira vez em que eu estive no Recife foi em 1961. Confesso, fiquei apaixonado pela cidade por causa de um programa de Aldemar Paiva, no rádio. Eu tinha 21 anos e me fascinava quando ele dizia “Pernambuco você é meu”, e também pelas músicas cantadas por Claudionor Germano, um maravilhoso cantor de frevos, por quem tenho admiração muito grande. Fui morar no Recife em 1982 e agora estou saindo e fixando residência na praia do Forte, na Bahia.

Texto e imagens reproduzidos do site: jornaldacidade.net

Postagem originária do Facebook/GrupoMTéSERGIPE, de 30 de outubro de 2015.